Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de novembro de 2024
Francisco Wanderley Luiz é de uma família conhecida de comerciantes da cidade de Rio do Sul (SC).
Foto: ReproduçãoAutor do ataque com explosivos direcionado ao Supremo Tribunal Federal (STF), Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, era conhecido em Rio do Sul (SC), cidade de 72 mil habitantes a 200 quilômetros de Florianópolis, a capital catarinense, como um empresário do ramo do entretenimento.
Quem conviveu com ele afirma que seu interesse pela política coincidiu com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, em 2018. Já o discurso radical, que incluía ameaças a instituições, passou a fazer parte de seu repertório após a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Desde então, bandeiras do Brasil, referências militares e ataques ao comunismo passaram a dominar suas redes sociais.
Francisco é de uma família conhecida de comerciantes da cidade de Rio do Sul. Desde a juventude, empreendia na área de eventos e shows, mas ficou mais conhecido quando inaugurou, na década de 1980, diversas discotecas na cidade.
Um dos frequentadores era o deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC), que se mudou para o município catarinense aos 13 anos. Dono de uma lanchonete na cidade, o parlamentar conta que considerava Francisco “um visionário”, com grande tino empreendedor. Um de seus últimos negócios foi uma casa onde tocava rock.
Amigos e familiares contam que o comerciante nunca foi de falar de política e não tinha interesse pelo que acontecia em Brasília, mas que isso começou a mudar a partir de 2018, com a eleição de Bolsonaro. Em 2020, se filiou ao PL, atual partido do ex-presidente, para tentar uma vaga de vereador, mas conseguiu apenas 98 votos.
“Paz, amor, generosidade, sinceridade, perdão e humildade” era uma das mensagens disseminadas por ele durante sua campanha.
“Ele entrou na política, foi candidato a vereador. E com a bandeira do Bolsonaro, sempre. Acredito que (a eleição de Bolsonaro) deva ter desencadeado esse lado político nessa época. Nunca tinha visto envolvimento dele antes”, disse Eduardo Marzall, ex-presidente do PL de Rio do Sul.
Marzall contou conhecer Francisco há 40 anos, desde quando começou a frequentar uma discoteca que ele e dois irmãos possuíam na cidade. O ex-dirigente partidário afirma que o amigo nunca demonstrou comportamento que indicasse ser capaz de um ato extremo, como o ataque a bombas ao STF.
Familiares afirmam que tudo mudou em 2022, após a derrota de Bolsonaro nas urnas. Foi nessa época que, na cidade natal, passou a frequentar manifestações golpistas que antecederam as invasões do 8 de Janeiro.
Em uma declaração gravada em vídeo pela Polícia Federal (PF), a ex-mulher dele, identificada apenas como Daiane, afirmou que desde então Francisco “só falava de política” e estava obcecado com a ideia de matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Segundo ela, o plano era assassinar o magistrado e “quem estivesse perto” no momento.
Daiane disse ainda aos agentes da PF em Santa Catarina que Francisco chegou a compartilhar com ela pesquisas no Google para planejar o atentado que tentaria executar na quinta-feira. Mensagens postadas por Francisco nas redes sociais evidenciavam sua guinada em direção ao extremismo.
Ele chegou a visitar o Supremo já com planos para o ataque, em agosto de 2024, quando postou uma foto dentro do plenário da Corte: “Deixaram a raposa entrar dentro do galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba precede a queda)”, escreveu na legenda.
Nas redes sociais, publicava prints de mensagens de WhatsApp enviadas por ele mesmo nas quais citava que o Brasil já era “um País socialista e comunista” e que iria “entregar a sua vida” para que “as crianças cresçam com liberdade”. Em uma postagem, reproduziu teoria conspiratória anticomunista ligada ao grupo de extrema direita QAnon. Desde o ano passado, Francisco passou a viajar com frequência a Brasília. Para se hospedar na cidade, alugou uma quitinete na Ceilândia, região administrativa da capital federal, a cerca de 30 quilômetros da Praça dos Três Poderes.
No espelho do banheiro do imóvel de 25 metros quadrados, deixou uma mensagem escrita com batom vermelho: “Debora Rodrigues. Por favor, não desperdice o batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas, estátua de m**** se usa TNT”, numa referência à mulher presa por pichar a estátua da Justiça durante os atos de 8 de janeiro. Na ocasião, ela pichou “perdeu, mané” na estátua, em referência a uma frase dita pelo ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente do Supremo.
Além do recado, Francisco deixou duas bombas no local, que foram desativadas pela PM. As informações são do jornal O Globo.