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Notícias Ataque na capital federal: Estadia de homem-bomba em Brasília e ameaças nas redes sociais evidenciam falhas dos órgãos de inteligência contra extremismo

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Homem que detonou bombas na Praça dos Três Poderes entrou na Câmara horas antes. (Foto: Reprodução)

A presença de Francisco Wanderley Luiz em Brasília desde julho, com uma série de ameaças nas redes sociais, expôs mais uma vez as falhas de inteligência e segurança na prevenção de ataques que já haviam sido evidenciadas nos atos de 8 de janeiro de 2023. Responsável por detonar uma bomba nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF), o que o levou à morte, ele vinha “anunciando” o dia e a hora da ação em publicações nas redes sociais, montou uma estrutura perto da Praça dos Três Poderes, com um carro, trailer e explosivos, e não foi incomodado pelas autoridades.

Interlocutores do STF e da Polícia Federal (PF) ouvidos pelo GLOBO afirmam que o homem-bomba não estava sendo monitorado pela inteligência dos órgãos e reconhecem brechas nos sistemas de acompanhamento de extremistas e nos protocolos de segurança da Praça dos Três Poderes.

Atualmente, o Supremo monitora mais de 5 mil pessoas, que estão catalogadas em um sistema que alerta a segurança do tribunal quando há a aproximação do perímetro do STF.

Diante das ameaças, a Corte está em fase de implementação de um sistema que cruzará dados com o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões — mecanismos que não foram suficientes para evitar o ato de Francisco Wanderley Luiz, que tinha registros de entrada na Corte e na Câmara dos Deputados nos últimos meses.

Nos atos de 8 de janeiro, informes internos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) relataram a movimentação prévia dos bolsonaristas radicais que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o prédio do STF, o que não resultou em ações preventivas. Agora, não houve informações antecipadas.

Entraves

Interlocutores do Supremo e da PF se queixam da falta de regulamentação nas redes sociais e falhas na legislação antiterrorismo. Conforme a lei atual, as plataformas não são obrigadas a passar dados de usuários para o cumprimento de ações coercitivas nem identificar ameaças por meio de palavras rastreáveis. Além disso, não há mecanismos para forçar as empresas a retirar um conteúdo de forma rápida nem para responsabilizá-las.

Na visão de investigadores, sem esses instrumentos, antecipar um eventual ataque como o ocorrido na quarta-feira equivale a achar uma “agulha no palheiro”. Procurados, STF, PF, Abin e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não se manifestaram.

“Do ponto de vista técnico, é quase impossível detectar um lobo solitário, porque, quanto menos organizado, mais difícil de se prever esse tipo de ato. O Brasil ainda tem problemas de protocolo de segurança. Nos Estados Unidos, há uma cultura de denunciar algum movimento estranho. Aqui o segurança do prédio acha que não é com ele”, disse Leandro Piquet Carneiro, pesquisador de crimes transnacionais e professor de Relações Internacionais da USP.

Relatório da Abin

Em comunicado enviado ao STF na quarta-feira, após as explosões, a Abin confirmou que Francisco Wanderley circulava por Brasília desde julho deste ano. A agência coletou uma série de publicações do homem em seu perfil no Facebook “anunciando ataques e manifestando ódio contra autoridades constituídas”.

O informe da Abin foi criticado em outras áreas do governo. Integrantes da PF classificaram o parecer da agência de que teria sido um ato isolado como uma “mera opinião” que não acrescenta nada às investigações. Ministros que despacham do Planalto dizem que o presidente Lula não se reuniu pessoalmente com o diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa, para tratar do caso.

Presidente da Associação Internacional para Estudos de Segurança e Inteligência, Denílson Feitoza afirma que o governo federal e o Congresso não dão a devida importância aos serviços de inteligência.

“Todo país desenvolvido com democracia forte tem inteligência forte. Quanto melhor forem controladas essas ferramentas, mais a sociedade e o poder político terão confiança de dar recursos”, disse.

Segundo Feitoza, há, por exemplo, sistemas de câmeras interligadas à inteligência artificial que identificam gestos e objetos suspeitos de pessoas andando na rua e produzem alertas.

O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, afirma que o atentado reforça a necessidade de aperfeiçoar a cooperação e a troca de informações de inteligência entre as polícias. “O Brasil está diante do desafio de como lidar com o terrorismo. O nível de complexidade é muito maior do que lidar com crime organizado”, disse.

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