Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 16 de novembro de 2024
A Polícia Federal (PF) trabalha com a hipótese de que Francisco Wanderley Luiz, o homem-bomba que acionou artefatos e se explodiu na frente do Supremo Tribunal Federal (STF), fazia parte de grupos de direita na região Sul. Há relatos colhidos pela PF de que ele chegou a participar de atos golpistas em Rio do Sul (SC), onde ele morava e mantinha os seus negócios de promotor de festas, discotecagem e chaveiro. A PF agora quer descobrir se ele participou dos protestos de 8 de janeiro e dos acampamentos na frente dos quarteis.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que há provas de “idas e vindas” de Wanderley entre a cidade catarinense e a capital federal em 2023 e 2024. Rodrigues também disse que as explosões em frente ao Supremo foram um “ato individual”, mas viu indícios de atuação de “grupos extremistas ativos” por trás do episódio.
“Particularmente eu tenho algumas ressalvas dessa expressão do ‘lobo solitário’. Ainda que a ação visível seja individual, por trás dessa ação nunca há só uma pessoa, é sempre um grupo ou ideias de um grupo, ou extremismos e radicalismos que levam ao cometimento desses delitos. A ação, de fato, foi individual, mas a investigação dirá se há conexões, redes, o que está por trás e impulsionou essa ação”, disse Rodrigues.
Os investigadores da PF estão apurando se ele recebeu algum apoio financeiro em Brasília (ele ganhou R$ 4.650 de auxílio emergencial durante a pandemia, mas declarou possuir um prédio de dois andares e quatro veículos em 2020) ou se foi incentivado por algum grupo. Nas redes sociais, ele publicava prints de mensagens de WhatsApp enviadas por ele mesmo, falando que o Brasil já era “um país socialista e comunista” e que iria “entregar a sua vida” para que “as crianças cresçam com liberdade”.
Em uma postagem, ele citou a suposta Operação Storm — uma teoria da conspiração que fala de uma fictícia força-tarefa comandada por Donald Trump para eliminar uma rede internacional de pedofilia revelada pelo grupo de extrema direita QAnon.
Conhecido como Tiu França, o homem teria comparecido ao bloqueio de um trecho da rodovia BR-470 ocorrido após o fim do segundo turno de 2022, segundo pessoas próximas a ele.
Só apoiou
“Ele não participou, só foi lá e apoiou o movimento. Ele tinha uma bandeira do Brasil enorme que ele usava para passeatas pró-Bolsonaro em 2018. Quando estivemos na manifestação na [BR] 470, contra o resultado das eleições, ele emprestou essa bandeira para a gente, foi hasteada em dois guindastes. Era um patriota, gente boa, nunca esteve metido em nada de falcatrua”, relatou o empresário Gilberto Finardi, que integra um grupo de direita de Rio do Sul (SC).
O ato contra a vitória eleitoral do presidente Lula ocorreu em frente a uma Loja Havan, e terminou com cenas de agressão a policiais rodoviários federais que tentavam desinterditar a via.
“Quando o Bolsonaro não agiu nas eleições e fugiu para o exterior, ele ficou desiludido com o Bolsonaro. Ele não queria saber nem de Lula nem de Bolsonaro. Ele queria saber de Justiça. Ele achava que o Alexandre de Moraes estava sendo injusto. Ele tinha uma raiva incontida contra o Moraes”, acrescentou Finardi.
Wanderley Luiz também estava presente em uma manifestação realizada contra o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, em Porto Belo, no litoral de Santa Catarina, em novembro de 2022. Barroso precisou sair do local escoltado por seguranças.
“Quando eu estive num estado da federação, e cercaram a casa onde eu estava com muita agressividade, esse cidadão era um dos participantes desse movimento”, disse o ministro do Supremo.
O celular e a nuvem de Wanderley são considerados provas essenciais para identificar a troca de comunicação com possíveis terceiros e rastrear os deslocamentos dele de Santa Catarina ao Distrito Federal. O aparelho já está sendo periciado pela PF após ser encontrado dentro de um trailer que ele havia alugado em Brasília. No veículo, também havia um boné com o slogan da campanha de Bolsonaro “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. As informações são do jornal O Globo.