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Ataques no Líbano: Israel construiu uma empresa de fachada para colocar explosivos nos pagers do Hezbollah

Nos ataques foram pelo menos 37 pessoas mortas e mais de 3,5 mil feridas. (Foto: Reprodução)

Grupos apoiados pelo Irã, como o libanês Hezbollah, são há muito vulneráveis ​​aos ataques israelenses que utilizam tecnologias sofisticadas. Em 2020, por exemplo, Israel assassinou o principal cientista nuclear do Irã usando um robô assistido por Inteligência Artificial e controlado remotamente via satélite. Israel também usou hackers para impedir o desenvolvimento do programa nuclear iraniano.

No Líbano, enquanto Israel mirava em integrantes do alto escalão do Hezbollah em assassinatos seletivos, o líder do grupo xiita chegou a uma conclusão: se os israelenses estavam apostando na alta tecnologia, o Hezbollah diminuiria seu uso. Estava claro, disse um angustiado Hassan Nasrallah, que Israel usava redes de telefonia celular para rastrear com precisão a localização de seus agentes.

“Vocês me perguntam onde está o agente. Eu lhes digo que o telefone em suas mãos, nas mãos de sua esposa e nas mãos de seus filhos é o agente”,  disse Nasrallah a seus seguidores em um discurso transmitido publicamente pela televisão em fevereiro, fazendo um apelo: “Enterre-o. Coloque-o em uma caixa de ferro e tranque-o”.

Alguns dos temores de Nasrallah foram estimulados por relatos de aliados de que Israel havia adquirido novos meios para invadir telefones, ativando microfones e câmeras remotamente para espionar seus proprietários. De acordo com três integrantes ​de serviços secretos, Israel investiu milhões de dólares no desenvolvimento da tecnologia, e espalhou-se entre o grupo xiita e os seus aliados a notícia de que nenhuma comunicação por celular — mesmo aplicativos de mensagens criptografadas — era mais segura.

O líder do Hezbollah apela há anos para que o grupo invista em pagers, que, apesar de todas as suas capacidades limitadas, podem receber dados sem revelar a localização do usuário ou outras informações comprometedoras, de acordo com avaliações da Inteligência americana.

Os funcionários da Inteligência israelense viram uma oportunidade. Mesmo antes de Nasrallah decidir expandir o uso de pagers, Israel já havia colocado em ação um plano para estabelecer uma empresa de fachada que se passaria por uma fabricante internacional dos aparelhos.

Pagers do Hezbollah

Ao que tudo indica, a B.A.C. Consulting era uma empresa sediada na Hungria que estava sob contrato para produzir os dispositivos em nome de uma empresa taiwanesa, a Gold Apollo. Mas, na verdade, fazia parte de uma frente israelense, segundo três agentes dos serviços secretos cientes da operação. Eles disseram que pelo menos duas outras empresas de fachada também foram criadas para mascarar as verdadeiras identidades das pessoas que criaram os pagers: funcionários da Inteligência israelense.

Explosivo PETN

A B.A.C. aceitou clientes comuns, para os quais produziu uma série de pagers normais. Mas o único cliente que realmente importava era o Hezbollah. Produzidos separadamente, os pagers fabricados para o grupo tinham baterias contendo o explosivo PETN, segundo os três oficiais citados. Os pagers começaram a ser enviados em pequenos números ao Líbano em meados de 2022, mas a produção aumentou rapidamente depois que Nasrallah denunciou os telefones celulares.

Pagers e walkie-talkies 

O líder do Hezbollah não só proibiu os celulares nas reuniões, como também ordenou que os detalhes dos movimentos e planos do grupo nunca fossem comunicados por meio deles, disseram as três fontes dos serviços de informação. Os integrantes do Hezbollah, ordenou ele, tinham de carregar pagers o tempo todo e, em caso de guerra, seriam usados ​​para dizer aos combatentes aonde ir.

Durante o verão no Hemisfério Norte, o fornecimento de pagers para o Líbano aumentou, com milhares chegando ao país e sendo distribuídos entre membros do Hezbollah e seus aliados, segundo dois funcionários da Inteligência americana.

Para o Hezbollah, eram uma medida defensiva, mas os agentes de Israel os chamavam de “botões” que podiam ser apertados quando o momento parecesse oportuno. Esse momento, ao que parece, aconteceu esta semana.

Para desencadear as explosões, de acordo com três responsáveis ​​dos serviços secretos e da defesa, Israel acionou os pagers para emitir um sinal sonoro e enviou uma mensagem em árabe que parecia ter vindo do alto escalão do Hezbollah.

Segundos depois, o Líbano estava um caos. Com tantas pessoas feridas, os hospitais logo ficaram lotados. Segundo o Hezbollah, dos 12 mortos nos ataques dos pagers, oito eram membros do grupo e duas, crianças. Na quarta-feira, o ataque por meio de walkie-talkies deixou 25 mortos, incluindo 20 integrantes do Hezbollah. Os dois dias de explosão deixaram mais de 3,5 mil feridos, incluindo civis. As informações são do jornal O Globo.

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