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Até agora proibidas, as mulheres sauditas poderão dirigir carros a partir de junho de 2018, mas comprar um automóvel ainda pode ser uma barreira

Mesmo com restrições as empresas já apostam no público feminino. (Foto: Reprodução)

Menos de uma semana depois de a Arábia Saudita anunciar que as mulheres do país poderão dirigir um automóvel, as montadoras já publicaram anúncios nas redes sociais com foco nas futuras motoristas, mesmo que a liberação só ocorra a partir de junho de 2018.

Comprar um carro, porém, ainda pode ser uma barreira para as sauditas, uma vez que o sistema de “guarda masculina” faz com que os homens controlem a vida das mulheres.

É provável que elas precisem da permissão do pai, marido, irmão ou filho para comprar um automóvel, assim como ainda precisam de autorização para alugar um apartamento, trabalhar ou abrir uma conta bancária.

“Se você não tem crédito, se você não tem dinheiro, seu guardião masculino será quem vai decidir se você compra um carro ou não”, disse à Associated Press Rebecca Lindland, analista da Cox Automotive nos Estados Unidos.

Apesar disso, marcas como Volkswagen, Ford, Nissan, Land Rover, Cadillac e Kia lançaram novos anúncios nas redes sociais em uma tentativa de ser o primeiro a entrar nesse “novo mercado”.

“É a sua vez, pegue o lugar do motorista”, diz o anúncio da Volks.

“Mostre a eles o que significa dirigir o mundo para o futuro”, propõe o anúncio da Cadillac.

Economia

Além do aspecto relacionado à reputação internacional, o reino considerou outros fatores ao formalizar a liberação, por meio de decreto, transmitida ao vivo na televisão estatal simultaneamente em um evento em Washington. Os sauditas esperam que a nova regra ajude no crescimento das mulheres na economia. Muitas mulheres sauditas gastavam uma significativa parte dos seus salários pagando motoristas ou dependendo de seus maridos para ir ao trabalho.

A Arábia Saudita é um dos lugares mais sagrados do islã e possui uma monarquia que segue as leis da Shariah. Clérigos e oficiais sauditas passaram anos justificando e explicando a restrição. Alguns diziam que era inapropriado para a cultura local que as mulheres dirigissem, que os homens motoristas não saberiam como lidar com mulheres dirigindo ao lado deles. Outros argumentavam que permitir que as mulheres dirigissem levariam à promiscuidade e ao colapso da família saudita. Houve até quem afirmasse que dirigir prejudicaria os ovários.

Ativistas realizaram diversas campanhas ao longo dos anos para acabar com a proibição e diversas mulheres foram detidas e presas por desafiar a proibição. Em 2014 uma mulher foi presa após tentar cruzar a fronteira e ficou 73 dias presa.

O sistema de “guarda masculina” faz com que mulheres não possam viajar, trabalhar ou se submeter a procedimentos médicos sem o consentimento de um homem “guardião” – em geral o pai, o marido ou mesmo um filho. Por isso este está sendo considerado um importante avanço, ou ao menos uma freada nas grandes limitações no direito de ir e vir das mulheres e filhas sauditas. As autoridades dizem acreditar que a sociedade local está preparada para esta mudança e que não deverá haver reversão.

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