Domingo, 15 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de dezembro de 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) acelerou na última quarta-feira (11), o ritmo da alta da taxa básica de juros para 1 ponto porcentual e colocou a Selic em 12,25%. Foi o terceiro aumento seguido promovido pelo Copom, numa tentativa de trazer de volta as expectativas para o centro da meta de inflação, que é de 3%. O comitê indicou que deve continuar a subir os juros. Nas próximas duas reuniões, deve repetir a alta de 1 ponto porcentual, colocando a Selic em 14,25%.
Para o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, o primeiro ponto a considerar antes de começar qualquer análise sobre os próximos passos do Banco Central é que a política monetária brasileira não está funcionando em seu modo habitual.
Geralmente, o impacto de uma alta de juros sobre a inflação não se dá de forma direta, e sim por meio dos chamados canais de transmissão da política monetária. O câmbio é um deles. Juros elevados costumam atrair capital externo, o que faz o dólar cair e puxa para baixo o preço dos produtos importados, aliviando a inflação.
Hoje, esse canal não está funcionando, tanto que, apesar da alta dos juros, o dólar chegou a superar os R$ 6. O que explica isso, na nossa visão, é a elevada dívida pública brasileira. Uma alta de juros, nesse contexto, faz aumentar rapidamente o déficit público nominal, que é aquele que inclui o montante de juros a ser pago pelo governo. Essa dinâmica piora a trajetória da dívida, gera aversão ao risco e pressiona o dólar.
Outro canal de transmissão relevante é o da própria atividade econômica. Juros mais altos normalmente reduzem a demanda agregada e, dessa forma, contribuem para diminuir a pressão sobre os preços. Mas, assim como o câmbio, esse canal não está apresentando o resultado esperado. Uma política fiscal expansionista, com injeção forte de estímulos fiscais, tende a desfazer os efeitos da alta de juros, porque joga contra a necessária desaceleração da economia. Enquanto a política monetária pisa no freio, a política fiscal pisa no acelerador. Sabemos que não é assim que o carro vai desacelerar.
Há evidências, portanto, de que a alta dos juros não está sendo o suficiente para conter a inflação. Sem uma política fiscal contracionista, o Banco Central deve continuar subindo os juros, pelo menos até maio do ano que vem. Para 2025, considerando a decisão de hoje do Copom e o tom do comunicado, vamos revisar para cima nossa projeção de Selic, hoje em 13,75%.
Para Leonardo Costa, economista do ASA , o Banco Central subiu em 100 pontos-base (1 ponto porcentual) a taxa básica de juros na reunião de dezembro. Seu comunicado reconhece a forte piora dos indicadores nas últimas semanas, bem como as suas projeções — com seu modelo indicando IPCA de 4% no segundo trimestre de 2026, distante da meta e dentro do seu horizonte relevante. A decisão e o comunicado foram duros, com indicação de mais duas altas de 100 pontos-base nas próximas reuniões do Copom, em janeiro e março.
Nossa projeção é de mais duas altas de 1 ponto, com a Selic indo até 14,25%. Contudo, consideramos que o BC deveria elevar a taxa básica de juros em mais 450 pontos-base (4,5 pontos porcentuais), em três altas de 150 pontos (1,5 ponto porcentual) cada, após o aumento de 100 pontos-base anunciado hoje. Assim, a taxa Selic subiria de 12,25% para 16,75%.
Esse movimento agressivo poderia ser considerado um choque de juros e teria potencial para trazer a inflação para próximo da meta no horizonte relevante de política monetária, no segundo trimestre de 2024. Os efeitos esperados dessa estratégia seriam a desaceleração da atividade econômica — a economia doméstica operaria abaixo do seu potencial, refletindo menores níveis de consumo e investimento. No entanto, o PIB ainda teria crescimento positivo. E a valorização do câmbio, devido à atratividade dos juros elevados para investidores estrangeiros, contribuindo também para conter pressões inflacionárias via preços de importados.