Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de janeiro de 2018
A polêmica na França em torno do assédio sexual ganhou um novo capítulo na noite desta quarta-feira. Durante um debate na emissora BFM TV, a atriz e apresentadora de rádio Brigitte Lahaie gerou indignação ao afirmar que mulheres podem “sentir prazer durante um estupro”. Brigitte é uma das cem personalidades francesas que assinaram no início da semana uma carta no jornal “Le Monde” defendendo o direito dos homens de “importunar”.
A declaração foi dada durante discussão com a ativista Caroline De Haas — uma vítima de estupro —, que rebateu a carta do “Le Monde” em artigo assinado por ela e mais 30 ativistas no site da emissora France TV.
“Como podemos devolver às mulheres o poder sobre seus corpos e seus prazeres? Há algo muito simples: parar a violência. Porque a violência impede o gozo. Quando você é vítima de um estupro, seu prazer diminui, em geral”, argumentava Caroline.
Foi então que Brigitte interrompeu.
“Nós podemos sentir prazer durante um estupro”, apontou a atriz, que fez sucesso no ramo pornográfico no fim da década de 1970.
A fala deixou todos na mesa constrangidos. De fato, a literatura científica relata casos em que vítimas de estupro sentiram prazer e até mesmo orgasmos, mas isso não minimiza o crime ou indica consentimento.
“O corpo de uma vítima de violência pode reagir de manteiras diferentes. Isso não muda o fato de o estupro ser um crime”, apontou Caroline após o debate, pelo Twitter. “Colocar esta frase ao falar sobre prazer sexual passa a impressão de banalização da violência”.
Pelas redes sociais, internautas se mostraram incrédulos e indignados com a declaração, ainda mais por ela ter sido dita como resposta a uma vítima de estupro.
A antropóloga Sonia Corrèa destaca que, embora Brigitte seja signatária do manifesto liderado pela atriz Catherine Deneuve, sua posição não pode ser confundida com a do documento.
“O manifesto diz claramente que o estupro é absolutamente condenável”, diz Sonia, que ressalta a necessidade de diferenciar condições. “Há relacionamentos sexuais com consentimento que podem conter situações vistas por quem está de fora como violentas, mas pelo ponto de vista das pessoas envolvidas, aquilo está dentro das regras, como o sadomasoquismo. Totalmente diferente é dizer que em uma relação coercitiva haja prazer. Não se pode atribuir isso ao conjunto das mulheres.”
A imprensa francesa destaca ainda outra declaração infeliz dita por Catherine Millet, também signatária da carta publicada no “Le Monde”. Em entrevista concedida em dezembro à rádio France Culture, a escritora se disse “surpresa” pelo fato de vítimas de estupro ficarem traumatizadas.
“Uma mulher que foi estuprada considera que foi contaminada, na minha opinião, ela internaliza os discursos dos outros ao redor dela”, disse a escritora, na ocasião, segundo a revista “Elle”. “Esse é o meu grande problema. Lamento muito por não ter sido estuprada, porque eu poderia testemunhar o que é um estupro.”
A socióloga Jacqueline Pitanguy ressalta:
“Ser estuprada como objeto de análise já não é um estupro, uma vez que ela quer isso. Temos que distinguir o que pode ser muito característico, do ponto de vista da psicanálise, de uma sexualidade sadomasoquista e o que constitui um estupro, que é um ato de violência e desumanização da mulher.”