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O mundo gasta 2 trilhões de dólares por ano em armas

Patriota defendeu que recursos destinados a armamentos financiem o combate à crise climática. (Foto: Divulgação)

O ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil e atual embaixador do Brasil no Egito, Antonio Patriota, propôs em evento na COP27 que a agenda de clima se aproxime da demanda por paz global e que recursos destinados a armamentos financiem o combate à crise climática. Patriota lembrou que o orçamento anual militar global é de US$ 2 trilhões.

“Não poderia haver um dividendo de recursos vindos dos armamentos, sobretudo das armas de destruição em massa, para salvar o planeta?”, propôs. O ex-chanceler também questionou por que não aplicados “recursos para uma causa civilizatória, em vez de haver tanto dinheiro canalizado para guerras? Quero propor que as pessoas que se interessam por clima também se interessem pela paz”.

Patriota falou em evento no Brazil Climate Hub, o espaço da sociedade civil brasileira na COP27, em Sharm El-Sheikh. O tema era a retomada da liderança na governança ambiental e climática do Brasil, como potência verde. “Estamos em uma COP africana”, disse o embaixador, lembrando que o PIB dos 54 países do continente “é apenas o dobro do brasileiro, com uma renda per capita que é 1/8 da brasileira.”

“O que é o mais importante para a África nessa COP? Justiça climática”, seguiu Patriota, citando a inflação intensificada pela guerra na Ucrânia.
“É reconhecer que a África contribui com menos de 4% da emissão global de gases-estufa e paga um preço elevadíssimo de inundações e secas”.

O diplomata fez “uma pequena crítica”, em suas palavras, à fala de Jennifer Morgan, enviada para o clima da Alemanha, que o precedeu no evento.

“Ela, em momento algum, falou em recursos financeiros. Esta é a prioridade número um para a África. A África não tem recursos. Há numerosos países endividados que não querem pagar por perdas e danos e adaptação a partir de novos empréstimos que vão aumentar suas dívidas externas. Quem pode fazer esse papel são os principais responsáveis pelo problema: os maiores emissores de gases-estufa e os que têm mais recursos”, seguiu Patriota.

Na sua opinião, o Brasil pode ajudar muito a África com agricultura. “Liderança não é só olhar para a África como um mercado em potencial, mas como uma região carente de agricultura, de sistemas de satélite que avisam sobre desastres climáticos, de capacitação”, exemplificou.

Segundo ele, os africanos se sentem pressionados por embarcar na transição energética, mas há 600 milhões de africanos que não têm eletricidade.

Jennifer Morgan, por sua vez, disse que “ficou bastante claro que a crise climática é uma crise de segurança”, afirmando que “temos conflitos por recursos de água, de alimentos, problemas humanitários de migração, doenças, crise energética”, e que “a crise climática desafia a paz”.

Patriota deu outra dimensão a essa visão.

“Precisamos pensar no sistema de governança global a partir da necessidade de democratizá-lo”, defendeu.

Ele ainda lembrou que há cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU: EUA, França, Reino Unido, Rússia e China.

“É preciso reduzir ao mínimo o poder oligárquico de algumas potências. Cinco países com poder de veto bloqueiam decisões de interesse da comunidade internacional de maneira arbitrária. Caso se introduza o tema do aquecimento como ameaça à paz e à segurança internacional, como querem alguns, estará se dando poder de veto a cinco países em decisões que interessam à comunidade internacional como um todo. Isso é democrático?”, questionou, defendendo ainda a reforma do Conselho de Segurança da ONU de modo “democratizante”.

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