Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de dezembro de 2024
Atuando nos últimos anos como uma espécie de “embaixador” do bolsonarismo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passou a ser encorajado por aliados e interlocutores a se tornar o herdeiro político do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, na próxima corrida ao Planalto. A hipótese, no entanto, esbarra na resistência pública do próprio Bolsonaro e da cúpula do PL — que tratam o ex-presidente, inelegível, como “única opção” para 2026.
Durante participação na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) em Buenos Aires, na última quarta-feira, Eduardo chegou a admitir que poderia ser o “plano B” do PL para 2026, em declaração ao jornal “Folha de S. Paulo”. Na sexta, questionado sobre o assunto em uma entrevista à Rádio Gaúcha, Bolsonaro chamou a si próprio de “plano A, B e C” do partido, e disse que só pensaria em alternativas depois da “morte física ou política em definitivo”.
Eduardo ganhou tração devido ao apelo ao bolsonarismo “raiz” e à dedicação em construir alianças fora e dentro do país. Correligionários consideram esses atributos cruciais para uma empreitada presidencial. Interlocutores do ex-presidente, porém, já têm ventilado a ideia de uma linha de sucessão familiar, ou deixado claro que Eduardo ganhou proeminência na família. Esta segunda circunstância foi ressaltada pelo vereador carioca Carlos Bolsonaro em um podcast veiculado na semana passada.
Ao lado de Eduardo, Carlos disse que busca “saber o que está pensando” o irmão mais novo para poder se “espelhar nele”. O vereador também elogiou o acesso construído por Eduardo junto a lideranças da direita mundial, especialmente nos Estados Unidos — o deputado participou da festa da vitória de Donald Trump na eleição americana deste ano —, e elogiou o irmão por ter ganhado esse espaço e revertido a imagem que tinha na juventude, de pouco afeito à política.
“Isso tudo surgiu de um cara que a gente não quis que entrasse na política. A gente queria que tivesse uma formação que passava pelo intercâmbio que ele fez nos Estados Unidos (aos 20 anos de idade), onde naquela oportunidade ele fritava hambúrguer. Essa bagagem que ele trouxe, desde os momentos mais simples, até os complicados, às vezes me inspira”, disse o vereador.
Outros aliados da família Bolsonaro já externaram a ideia de um dos filhos do ex-presidente ser alçado à disputa presidencial, possibilidade que sequer era cogitada até o ano passado. Em artigo recente ao portal Poder360, o ex-deputado Eduardo Cunha, que participou de um almoço com Bolsonaro e dezenas de políticos fluminenses na semana passada, escreveu que a eleição de Trump nos EUA tornava Eduardo o “favorito para suceder a Bolsonaro” em 2026, considerando as “relações mais próximas” do futuro presidente americano com o deputado.
Fator Tarcísio
Em outubro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou em entrevista que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria o “primeiro da fila” para suceder o ex-presidente, mas avaliou que o partido tem “o Eduardo Bolsonaro também” como opção. Pouco depois, o líder do PL na Câmara, deputado Altineu Côrtes, disse que tanto Eduardo quanto o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho primogênito do ex-presidente, são “nomes fortíssimos” para a sucessão “quando Bolsonaro passar o bastão”. Nesse sábado (7), Altineu frisou, no entanto, que o ex-presidente é o candidato “em qualquer hipótese” em 2026.
Além de mostrar proximidade com figuras alinhadas ao bolsonarismo no plano internacional, como Trump e o presidente da Argentina, Javier Milei, Eduardo tem reforçado um discurso de buscar alianças locais que permitam uma maior ocupação de espaços por bolsonaristas.
No mesmo podcast em que foi elogiado por Carlos, Eduardo afirmou que é preciso “organizar melhor” a direita e “aparar arestas internamente” para formar candidaturas competitivas e buscar maioria no Senado em 2026, discurso que vai de encontro à ala mais pragmática do PL. O próprio deputado, porém, reconheceu que às vezes não é o “melhor exemplo” desse pragmatismo e que pode “explodir (…) em último caso”, postura que agrada a militância.