Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 3 de janeiro de 2024
O grupo aéreo Air France-KLM retomou 39 voos semanais dos 44 que oferecia no Brasil antes da pandemia. Não há previsão de quando a companhia voltará a operar esses cinco que faltam, e não é por pouca demanda dos brasileiros por voos que conectem o País à Europa. “Estamos usando toda nossa frota e não temos aeronaves para adicionar destinos”, diz o diretor-geral do grupo no Brasil, Manuel Flahault.
A situação da Air France é a mesma vivida por empresas brasileiras do setor, que reduziram a previsão de aumento de oferta de assentos por não receber jatos que haviam sido encomendados. A escassez de aviões começou a ficar evidente no primeiro semestre de 2022, quando fabricantes de aeronaves passaram a perceber atrasos na entrega de motores por causa das interrupções das cadeias produtivas na pandemia.
Em junho do ano passado, o presidente da Airbus, Guillaume Faury, afirmou que, em maio, a empresa tinha 20 aviões prontos aguardando apenas os motores. Com as quarentenas impostas em todo o mundo, empresas que produziam peças fecharam. Eram companhias muito especializadas, cuja cadeia tem demorado para se reestruturar.
Em meados de 2022, a expectativa era de que o problema começasse a ser resolvido no fim de 2023, mas ele continua – e, com passageiros não economizando em passagens, a crise ficou mais acentuada para as companhias aéreas, que gostariam de elevar a oferta de voos.
Sem receber os aviões, as aéreas não conseguem expandir a capacidade e, consequentemente, elevar suas receitas. Uma oferta maior de voos permitiria que elas diluíssem seus custos e ampliassem as margens. Isso seria importante sobretudo neste momento, em que empresas estão gerando caixa apenas para cobrir os custos da operação.
No caso da Air FranceKLM, a companhia ainda passa por uma dificuldade extra: a falta de pilotos. Segundo Flahault, durante a pandemia, companhias em todo o mundo deixaram de treinar pilotos, que precisam de um elevado número de horas de prática para poder comandar voos transatlânticos. O grupo não revela quantas aeronaves deixaram de ser entregues neste ano, mas, segundo sua assessoria de imprensa, os atrasos variam de “alguns dias a alguns meses”.
Oferta menor
No Brasil, a Azul não recebeu 7 dos 18 aviões que estavam previstos para 2023. Diante disso, a empresa anunciou em novembro que o aumento de sua capacidade neste ano seria de 11%. Antes, a previsão era de 14%. Segundo o CEO da companhia, John Rodgerson, a média de atraso na entrega de aeronaves da Embraer é de dois a três meses, enquanto da Airbus, de seis meses.
Rodgerson afirma que os novos jatos, com tecnologia que permite menor consumo de combustível, também estão precisando passar por manutenções com maior frequência, o que agrava ainda mais a crise. Antes, a cada 20 mil horas de voo, era preciso retirar o motor e enviá-lo à oficina, onde ele ficava cerca de 120 dias. Agora, isso tem sido feito a cada 5 mil horas.
Entre as aéreas, a Gol também reduziu sua previsão de aumento de oferta de assentos no ano passado de 15% a 20% para 10% a 15%, e o tamanho da frota de 114 a 118 aviões para de 110 a 114. Cliente da Boeing, a empresa recebeu apenas uma das 15 novas aeronaves que estavam programadas.
Resposta
Em nota, a Embraer afirmou que o cenário da cadeia de suprimentos “ainda é bastante desafiador” e que a empresa tem trabalhado “diligentemente junto aos seus fornecedores e desenvolvido ações internas para mitigar eventuais impactos aos clientes”. A Boeing disse que seu “foco continua sendo a execução e a estabilidade na produção e na cadeia de suprimentos”. A Airbus não se manifestou.