Entre nós, paira uma tristeza profunda e silenciosa. Os dias têm sido difíceis no Rio Grande.
A maior tragédia natural da história se abateu sobre o estado, atingindo metade das cidades gaúchas. dezenas de mortos. Dezenas de desaparecidos. Milhares de desabrigados. Vidas que se perderam, histórias que ficaram para trás.
Acompanho o drama à distância, pois me encontro também “ilhada”, porém, segura. Estou a 2.380 quilômetros de distância, em Santiago do Chile. Vim para um evento importantíssimo promovido pela UNESCO para tratar da liberdade de imprensa. Esse ano, o tema trata da importância do jornalismo diante da crise ambiental. Não poderia ser mais oportuno, se não fosse tão dramático.
A organização demonstra intensa preocupação com a segurança dos jornalistas. Afinal, sabe-se que há muitos interesses em jogo. Vidas também já foram perdidas na guerra da informação. Porém, a liberdade de imprensa é fundamental para o amplo conhecimento dos fatos pela sociedade. A liberdade de expressão é um dos pilares da democracia.
Não estou com os meus conterrâneos, e isso nos gera um tanto de culpa. Vemos, à distância, tanto sofrimento. Aquela dor que corrói o peito, profunda, perpassando milhões de riograndenses, perplexos com a força da natureza, com o descaso coletivo com o meio ambiente e com a falta de estrutura pública que, juntos, levaram a essa tragédia. Não foi por falta de aviso: o ano de 2023 nos trouxe três eventos de grandes proporções. Fomos avisados.
Dizia-se que o Brasil podia ter inúmeros problemas, mas era abençoado pela inocorrência de desastres climáticos. Acordamos da nossa ingenuidade – ou, quem sabe, da nossa soberba. Não somos melhores, tampouco sortudos. A natureza reage à provocação.
Primeiro, lidamos com a emergência. Acredito que o nosso Governador e o nosso Prefeito da Capital estão envidando todos os esforços possíveis. Não dão conta, porém. E aí, aconteceu algo lindo. Mesmo em meio ao caos, brilhou o amor da solidariedade.
Vejo uma movimentação extraordinária em prol da comunidade. E é isso que precisamos, como povo: a noção de que estamos juntos. No caso, agora estamos juntos na dor.
O comércio se tornou ponto de coleta. As escolas e clubes se tornaram abrigo. Doações vêm sendo feitos por todos os lados. Jet skis e barcos privados estão fazendo resgate. Milhares de pessoas ajudando. É a alma do povo gaúcho se solidificando diante da peleja.
Talvez sejamos assim, esse povo forjado na batalha – ora de sangue, ora de água. E mostramos que nossas façanhas não são apenas para guerrear, mas para salvar vidas. E assim, que sirvam de modelo à toda terra.
A todos os heróis desse Rio Grande que têm mostrado valor e constância diante de tantas adversidades e tanta dor, ajudando o próximo e trazendo esperança… o meu mais sincero agradecimento.