O primeiro dia oficial do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) em Davos, na Suíça, foi marcado pela chegada das comitivas de países do mundo todo. Do Brasil, a ausência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva frustrou os espectadores brasileiros, novamente. Já dos Estados Unidos, uma presença mais massiva deve ser vista nos próximos dias porque, nessa segunda-feira (20), toda a atenção esteve voltada à posse de Donald Trump.
A ausência da neve levou mais pessoas às áreas externas. A Promenade, a rua mais badalada de Davos, foi lotando ao longo do dia, dando a sensação de que o fórum deste ano está mais movimentado. O escalão de bancos, países e empresas presente aproveitou o quórum para atrair os participantes e, de quebra, esquentá-los ao oferecer chás e cafés — apesar de não ter neve e da ajuda do sol, faz frio.
Quem deu sorte foi a Brazil House, que estreou em Davos. Pela primeira vez, o País tem um espaço dedicado nos Alpes Suíços, seguindo exemplos de outras nações como Argentina, Índia, África do Sul e Emirados Árabes. A iniciativa é liderada pelo BTG Pactual em conjunto com outras empresas como Vale, Gerdau, Ambipar, Be8, JHSF e Randoncorp.
O objetivo dos patrocinadores da Brazil House é ver e ser visto, já que a ausência de integrantes de peso do governo Lula causou frustração pelo segundo ano consecutivo. Dentre banqueiros ouvidos pelo Estadão/Broadcast, o sentimento foi misto, mas pendendo para o negativo. Para um deles, o Brasil tinha de estar em Davos e ponto. O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, vê uma agenda interna mais importante no contexto atual, com o fiscal do jeito que está, reforma ministerial e na esteira da crise do Pix.
Um terceiro peso pesado do setor financeiro brasileiro concorda, mas não se surpreende. “É lógico que eles têm que estar aqui. Mas não é um comportamento que seja completamente diferente do que normalmente a gente vê do Brasil”, diz ele, na condição de anonimato.
Também sobrou mais espaço para as críticas, em especial, à situação fiscal no Brasil, que continua gerando dúvidas mesmo após o pacote lançado pelo governo Lula. “Vejo esforço nesse sentido, principalmente por parte do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que entendeu perfeitamente a relevância de a gente fazer o ajuste fiscal. Acho até que as medidas do final do ano foram muito boas. Agora, a gente precisa de um pouco mais”, cobrou um banqueiro, que preferiu não ser identificado. Para ele, resolver o filme do Brasil é fácil e o ambiente macroeconômico no País não é tão complicado. “A gente está fazendo ele virar complicado”, afirma.
Sendo assim, a cara do Brasil em Davos ficou com o setor privado. A expectativa dos patrocinadores é a de que a Brazil House se torne a âncora brasileira nos Alpes Suíços. E a promessa é testá-la por ao menos dois anos. Por ora, a iniciativa, que consumiu cerca de R$ 13 milhões em investimentos, agradou. “Finalmente estamos representados”, comemorou a sócia sênior da McKinsey do Brasil e líder para América Latina, Tracy Francis, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
No cenário global, por todos os cantos de Davos só se fala da posse do Trump e os seus respectivos impactos. Todo dia tem um painel com o que se esperar de sua gestão e, nas rodas de conversas, idem. E o assunto deve esquentar ainda mais. Trump fará uma conversa virtual com os participantes, nesta quinta-feira, 23. Ele já esteve duas vezes em Davos. CEOs de empresas americanas também devem chegar em maior número nos próximos dias. Somente na posse de Trump, estavam lado a lado Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Elon Musk (X e Tesla) e Tim Cook (Apple). (Estadão Conteúdo)