O australiano Blake Johnston entrou para a galeria dos recordes do surfe graças à sua determinação. Ele quebrou ontem o recorde mundial de tempo pegando onda, ao surfar durante 40 horas na praia de Cronulla, em Sydney. Ex-surfista profissional, Johnston tem 40 anos.
Sua primeira reação ao chegar à praia e constatar ter superado com autoridade a marca anterior – 30 horas e 11 minutos, que pertencia ao sul-africano Josh Enslin – foi cair no choro. Ele começou o desafio à noite, por volta de 1h de quinta-feira (16), no horário local. Ficou na água até as 17h de sexta (18) – 6h de Brasília.
Nas 40 horas, no total Johnston surfou mais de 700 ondas, com várias pausas para comer, aplicar protetor solar ou colírio nos olhos.
A cada saída, autorizada pelo regulamento do desafio, os médicos verificavam seus batimentos cardíacos e a pressão arterial antes de deixá-lo continuar em um oceano com temperatura da água de 24 graus Celsius, o que reduzia os riscos de hipotermia.
Depois de garantiu o recorde ao bater a marca de Enslin, Johnston admitiu estar “um pouco esgotado” fisicamente, mas voltou à água com o objetivo de alcançar as 40 horas, marca que queria atingir. Com o recorde, o surfista, cujo pai se suicidou há dez anos, arrecadou US$ 330 mil australianos (US$ 221 mil americanos) que serão utilizados em ações para a prevenção do suicídio e para melhorar a saúde mental dos jovens.
Esta não é a primeira vez que Johnston embarca em uma aventura de resistência. Em 2020, ele correu 100 km pela costa sul acidentada de Sydney, descalço durante a maior parte da corrida.
Dedicação
Johnston tem batalhado insistentemente para arrecadar dinheiro para a Fundação Chumpy Pullin, instituição de caridade que homenageia o snowboarder homônimo, que morreu em 2020. Nas redes sociais, o instituto afirma que sua missão é “quebrar barreiras para fornecer apoio e inspiração para jovens australianos participarem e crescerem por meio do esporte e da vida”.
Alex “Chumpy” Pullin foi porta-bandeira da Austrália nos Jogos de Inverno de Sochi, na Rússia em 2014, e morreu afogado aos 32 anos enquanto praticava caça submarina na cidade de Gold Coast, em seu país. Sua filha nasceu 15 meses após sua morte, graças à fertilização em vitro com sêmen coletado após sua morte.
O nome de Johnston não é tão popular no cenário das principais competições mundiais de surfe, mas ele tem relevância local. É instrutor de surfe e se dedica a ensinar jovens a encarar suas primeiras ondas. Mas as ambições de Johnston não estão limitadas a recordes ou a intenção de se notabilizar. Seu objetivo é chamar a atenção do mundo do esporte para um assunto que tem se tornado recorrente: a saúde mental.
“Todo mundo merece se sentir incrível. Merece cuidar de si mesmo. Isso me afetou muito pessoalmente também. Eu tenho minhas próprias batalhas. Eu me forço ao limite com minhas aventuras para provar a mim mesmo que sou digno e posso passar por momentos difíceis e é aí que minhas lições são aprendidas”, afirmou.