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Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2019
O jornalista Dave Cullen, autor de livros sobre os massacres de Columbine e Parkland, diz que “dar armas nas mãos de professores é uma ideia terrível”. Ele será um dos principais palestrantes do Educação 360 Encontro Internacional, que acontece este mês no Rio de Janeiro. As informações são do jornal O Globo.
Dave Cullen morava perto de Columbine, no estado americano do Colorado, onde 15 pessoas morreram durante um massacre em uma escola de ensino médio, há 20 anos. Desde então, o jornalista se dedica a investigar a motivação desse tipo de crime.
Autor do livro “Columbine” (DarkSide Books), de 2009, ele também lançou, este ano, “Parkland: o nascimento de um movimento”, sobre a chacina em uma escola na Flórida, em 2018.
Um dos convidados do Educação 360 Encontro Internacional, que acontece dias 16 e 17 deste mês, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Cullen vai dar uma palestra antes de um debate que reunirá pais de alunos de colégios brasileiros onde houve massacres: a Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, onde dez pessoas morreram, este ano, e a Escola Municipal Tasso da Silveira, onde 13 pessoas foram mortas, em Realengo, em 2011.
1. Por que atiradores atacam a escola? O que a instituição representa para eles?
Columbine foi pensado como uma performance, e os outros massacres também são. Raramente, o alvo é uma pessoa específica. Normalmente, os atiradores saem disparando pelos corredores para o país assistir. Eles querem o maior número de espectadores, e a escola é o palco perfeito, deixa os pais aterrorizados. Mas também há o lado simbólico de atacar algo que é central na vida deles, que para eles representa poder.
2. Qual é o papel da escola na prevenção? É possível treinar professores para identificar sinais de perigo?
Ajuda, mas pouco. O mais importante relatório do FBI deixa claro que a maioria dos sinais de alerta se aplica a muitos estudantes. Em alguns estados foi aprovada recentemente uma lei que suspende o direito de pessoas potencialmente perigosas, que fizeram uma ameaça, de comprar uma arma, o que ajuda a evitar tragédias. O serviço secreto descobriu que 80% dos atiradores contam a uma pessoa próxima sobre o crime, que quase sempre levam meses planejando. Crianças não são boas em manter segredo. Então, se alguém fizer uma ameaça, mesmo em tom de piada, é preciso avisar. Hoje, a maioria dos massacres são descobertos antes de acontecerem. Em termos de saúde mental, é preciso diagnosticar doenças como depressão entre adolescentes. A maioria dos atiradores são depressivos raivosos.
3. Os atiradores costumam ser do sexo masculino. Violência e socialização de gênero devem ser discutidos na escola?
A imensa maioria de crimes com armas de fogo é praticada por homens, parte de um problema maior que é a forma como homens lidam com sua raiva de forma violenta. É importante que o assunto seja discutido, que meninos possam expressar suas fraquezas. Não abordar isso em sala de aula é ignorar o problema.
4. Como lidar com a saúde mental dos sobreviventes?
É importante não tentar acelerar o processo de cura. Cada um tem seu ritmo, não adianta outras pessoas dizerem coisas do tipo “siga com sua vida”. Elas não entendem a dimensão do problema. Os sobreviventes odeiam isso. O primeiro aniversário da tragédia é um dos dias mais difíceis. Muitos suicídios de sobreviventes ocorrem nesse período, como aconteceu este ano, após o primeiro aniversário do massacre de Parkland. A maioria dos sobreviventes de Columbine gostaria de ter recebido ajuda psicológica mais cedo.
5. Em 20 anos, qual foi a história mais marcante que você acompanhou?
Posso citar, por exemplo, Coni Sanders, a filha do único professor morto em Columbine, que morreu salvando alunos. Coni estava no ensino médio e se tornou doutora em psicologia. Ela não se especializou em tratar pessoas traumatizadas como ela, mas, sim, homens que cometem crimes violentos, como estupradores e assassinos. Ela também defende um maior controle sobre armas de fogo.
6. Para Donald Trump, armar professores pode ajudar. O mesmo foi discutido no Brasil, após o massacre de Suzano. O que acha da ideia?
Não sejam mais uma América. Somos o pior exemplo nesse quesito. Na Austrália, aconteceu o oposto: depois do massacre de Port Arthur (com 35 mortos, em 1996), o país reformou suas leis de controle de armas e, desde então, não houve mais assassinatos em massa. O autor do massacre na Nova Zelândia, no início deste ano (51 mortos), era um australiano que conseguiu as armas na Nova Zelândia. Dar armas nas mãos de professores é uma ideia terrível. Estudos comprovam que as chances de uma pessoa morrer aumentam muito quando ela compra uma arma, mesmo que para defesa pessoal.