Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de fevereiro de 2022
Avaliar estudantes não pode ser uma forma de puni-los, defende especialista
Foto: DivulgaçãoNota, boletim, recuperação: esforçar-se no final de cada bimestre para alcançar a média necessária para a aprovação ainda é uma realidade para muitos estudantes brasileiros. Mas, com avaliações periódicas, o acompanhamento constante da aprendizagem é um importante aliado para garantir um melhor desenvolvimento do ensino e, talvez, em um futuro próximo, mudar esse cenário.
Essa estratégia é positiva para lidar não apenas com as dificuldades normais de aprendizado, mas também com os impactos da pandemia na educação de crianças e adolescentes. Trata-se de uma maneira de identificar possíveis lacunas na absorção dos conteúdos e, com isso, corrigir a rota antes mesmo que o estudante passe pela avaliação somativa, que é a que estabelece notas e/ou conceitos.
De acordo com a coordenadora editorial de avaliações do Sistema Positivo de Ensino, Deise Lucide Martins Dos Santos, a mudança no perfil de avaliações tem trazido bons resultados. “Em 2020, percebemos que seria necessário encontrar um caminho para acompanhar mais de perto o que os estudantes estavam, de fato, aprendendo, em meio à pandemia e ao ensino remoto. Foi por isso que criamos a avaliação diagnóstica, que ajuda a entender se aquele aluno classificado como bom realmente consolidou a aprendizagem”, explica.
Desde 2021, todas as escolas conveniadas passaram a contar com uma solução integrada de avaliações. O pacote compreende três tipos de avaliação: a diagnóstica, que permite constatar defasagens e lacunas, além de identificar se o problema está no conceito do conteúdo trabalhado ou no cognitivo do estudante; a formativa, realizada ao fim de cada capítulo do material didático, que ajuda o professor a acompanhar a evolução da aprendizagem daquele aluno; e, por fim, a avaliação somativa, exigida por lei, que classifica o aprendizado de acordo com notas e/ou conceitos.
Avaliação não pode ser “terrorismo”
De acordo com Deise, mais que uma mudança de processo, trata-se de uma mudança de paradigmas. “É fundamental trabalhar com os estudantes para que eles não vejam a avaliação como o terror da escola. Ela deve ser uma possibilidade, e não um acerto de contas. Se pautar o aprendizado pela ameaça da avaliação, o aluno vai aprender só momentaneamente, porque ele depende daquela nota para a aprovação. Isso não é aprendizagem”, ressalta.
Segundo ela, escapar dessa lógica é complexo e, ironicamente, tem se provado um desafio para ser vencido aumentando o volume de avaliações pelas quais os estudantes passam ao longo do ciclo letivo. Para a educadora, a avaliação tradicional, formalmente chamada de somativa, tem um caráter naturalmente excludente. Isso porque classifica o estudante como bom ou ruim, suficiente ou insuficiente, aprovado ou reprovado.
“Essa característica é um problema tanto para a autoestima dos jovens, cujos conhecimentos vão muito além dos conteúdos trabalhados em sala de aula, quanto para o trabalho dos educadores, que se vêem sem a possibilidade de melhorar os próprios métodos. Ao determinar se o estudante alcançou ou não a média exigida, não há nada que ajude a entender o que saiu errado para esse resultado”, explica.
Portanto, além de medir o que está ou não sendo absorvido, Deise defende que as avaliações também servem a um propósito mais amplo: o de compreender o que está levando os alunos a aprender ou não aprender. “A partir do momento que criamos a avaliação diagnóstica, construímos uma matriz de referência para verificar se o aluno realmente desenvolveu o eixo cognitivo e o eixo estruturante de cada componente curricular”, detalha. Ela ressalta que, para uma avaliação cumprir o papel, ela precisa dosar a linha de raciocínio do aluno e mostrar como esse raciocínio está evoluindo.
Dessa forma, o propósito não é atingir uma nota, mas dar ao professor as ferramentas necessárias para acompanhar o que o estudante absorve do trabalho do dia a dia. Há tempo para retomar os conteúdos, corrigir erros, revisar conceitos que apresentem lacunas. “Quando o aluno chega à avaliação somativa, que é aquela que a legislação nos exige, ele tem a possibilidade de que ela não seja excludente, porque ao longo do ciclo a avaliação diagnóstica apontou as falhas, e a formativa foi dando informações do que era necessário trabalhar ou retomar”, finaliza a especialista.