Além da cobertura vacinal, cientistas já começam a formar consenso em torno da necessidade de avanço de outras formas de combate farmacológico à pandemia de coronavírus. Uma das alternativas em estudo é a disponibilização de pílulas, inclusive de forma combinada às doses ministradas por meio de injeção.
Especialistas ouvidos pelo jornal “O Estado de São Paulo” ponderam que, para gerar resultados em grande escala no tratamento da covid, esse tipo de medicamento precisa ser acessível e passa inclusive pela testagem em massa da população.
A Pfizer divulgou resultados preliminares indicando que a pílula antiviral Paxlovid, desenvolvida pela farmacêutica, obteve eficácia de 89% na redução do risco de internação ou morte entre pessoas com casos graves de covid. Agora, a solicitação de autorização para uso da droga será enviada à FDA, agência equivalente à brasileira Anvisa nos Estados Unidos.
Na última quinta-feira (4), o órgão regulador de medicamentos do Reino Unido aprovou o molnupiravir, pílula contra a covid-19 desenvolvida conjuntamente pela farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD) e pela Ridgeback Biotherapeutics. É o primeiro tratamento antiviral de via oral contra a covid aprovado no mundo.
“Esses novos medicamentos podem fazer uma grande diferença. A imunização é importante para evitar o desenvolvimento da doença, mas, mesmo imunizado, você pode ser contaminado com o vírus”, explica o professor Adriano Andricopulo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Ele ressalta que “as novidades dão esperança” porque as pílulas de via oral têm potencial diferente do remdesivir, por exemplo, que apresenta baixa eficácia contra covid, precisa ser administrado por via intravenosa e é um medicamento extremamente caro – cerca de R$ 15 mil. Isso o torna inviável em em um país como o Brasil
As pílulas de via oral ainda não têm um preço estimado para comercialização no Brasil, uma vez que sequer tiveram solicitação de uso emergencial enviada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ainda assim, a expectativa de Andricopulo é que sejam mais acessíveis que o remdesivir e disponibilizadas em larga escala, a fim de combater a doença. Enquanto o medicamento da Pfizer demonstrou eficácia de aproximadamente 90%, a da pílula da Merck seria de 50%.
Segundo a farmacologista Soraya Smaili, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tudo indica que serão necessários mais de um medicamento, talvez um coquetel no futuro, pois ainda não há uma chave antiviral efetiva para a infecção pelo coronavírus.
“Os medicamentos usados para tratar a doença já em estado mais grave (corticosteróides, tocilizumabe e remdesivir, por exemplo) avançaram mais que os antivirais”, salienta. “Ainda estamos um pouco longe de termos uma pílula efetiva para o dia seguinte.”
Para a epidemiologista Denise Garrettvice, presidente do Instituto Sabin, as pílulas da Merck e da Pfizer têm grande potencial de grande impacto na pandemia, conforme as condições criadas para atingir tal objetivo:
Denise destaca que um ponto importante desses medicamentos é a necessidade de se ter testagem amplamente disponível. Isso porque é necessário um diagnóstico rápido e precoce, para que o tratamento medicamentoso comece nos primeiros dias de sintomas. O início tem que ocorrer em até três dias no caso da pílula da Merck e em até cinco dias com a da Pfizer.
Brasil
Em nota, o Ministério da Saúde informou que acompanha todos os estudos referentes ao tratamento da covid e reiterou que cabe à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do Sistema Único de Saúde (SUS) a avaliação de novas terapias e tratamentos, após o registro do medicamento pela Anvisa.
“Até o momento a Conitec não recebeu pedido de incorporação dos medicamentos Paxlovid e molnupiravir”, apontou a pasta.
Os testes da pílula Paxlovid também estão sendo feitos no Brasil. Ao todo, 29 centros de pesquisa do País fazem parte dos estudos clínicos de fases 2 e 3. Uma das participantes, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), informou que os estudos estão sendo conduzidos em três etapas.
O objetivo é avaliar a segurança e eficácia do composto PF-07321332 na prevenção da infecção e dos sintomas causados pelo vírus.
Com a divulgação dos dados preliminares da Pfizer nesta sexta, a Faculdade de Medicina da UFMG informou que os centros ligados à pesquisa vão suspender o recrutamento de voluntários para a primeira das três pesquisas.
A estimativa é que a próxima etapa do estudo, que é do tipo duplo cego, comece na segunda quinzena deste mês. Com duração de cinco dias, o tratamento é feito com duas doses diárias do composto PF-07321332 associado ao ritonavir, usado para aumentar o nível da droga ativa.