Era abril de 2014 quando um emissário do então presidenciável Eduardo Campos (morto em 2014) levou pela primeira vez o convite para que Joaquim Barbosa se filiasse ao PSB.
A receita fácil que mistura a autoridade de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) ao frescor de um outsider da política era o prenúncio, aos olhos do pernambucano, do fenômeno que aconteceria quatro anos depois: Barbosa foi alçado ao posto de principal novidade da eleição, com até 10% nas pesquisas, antes mesmo de se declarar candidato.
Naquela ocasião, foi de Alexandre Navarro, seu amigo há mais de 30 anos, a missão de dizer que o PSB gostaria de tê-lo na disputa pelo governo do Rio. Avesso a articulações políticas e prestes a se aposentar, Barbosa não quis nem ouvir Campos pessoalmente.
Respondeu que não queria parecer oportunista, já que deixaria a corte dali a menos de três meses. No fim da conversa, porém, deu um recado direto a Navarro: “No futuro, posso ser candidato e pode até ser pelo seu partido”. E foi ali que Joaquim Benedito Barbosa Gomes chancelou seu desejo de concorrer à Presidência da República.
Recém-filiado ao PSB, o relator do mensalão em 2012 agora tenta consolidar, dentro e fora da sigla, sua candidatura ao Palácio do Planalto.
Sabe que precisa vencer resistências a seu nome no partido, mostrar mais claramente em que campo ideológico se posiciona e decidir se vale a pena trocar a unanimidade de uma vida como advogado bem-sucedido pelo papel de candidato ao mais alto cargo Executivo do País.
O ministro aposentado resolveu apostar. Reiniciou as conversas com o PSB em agosto do ano passado, em um jantar na sede da Fundação João Mangabeira, em Brasília. Mais uma vez Navarro, presidente do conselho de ética do partido, recebeu Barbosa em um encontro discreto, ao lado do presidente da legenda, Carlos Siqueira, e o da fundação, Renato Casagrande.
A conversa foi inconclusiva mas, em 8 de novembro, o grupo se encontrou novamente e ofereceu a legenda para que o ex-ministro disputasse as eleições deste ano.
Outras reuniões se seguiram, até que, dez dias antes de se filiar ao PSB, Barbosa falou de forma mais objetiva sobre suas pretensões eleitorais com um de seus principais conselheiros: o ex-colega de STF Carlos Ayres Britto.
Os dois se encontraram em um café de Brasília e ali já estava claro que seu maior desafio seria unir um partido do qual nunca fizera parte. E mais: mostrar o que pensa sem perder o capital político que, de saída, parece ser capaz de abocanhar eleitores de diferentes campos ideológicos.
Barbosa não está ladeado por uma equipe robusta e seu ainda nebuloso pensamento sobre áreas estratégicas, principalmente na economia, faz com que aliados se apressem a espalhar algumas de suas ideias. O objetivo é evitar a fuga de potenciais apoiadores.
Na política externa, por exemplo, tem manifestado intenção de resgatar o protagonismo do Brasil na América Latina, movimento iniciado, em suas palavras, timidamente durante o governo FHC e potencializado com Lula.
É contra o semipresidencialismo defendido por Michel Temer e não apoia indicações partidárias para o comando de agências reguladoras. É a favor da reforma política, com voto distrital misto e lista, e contrário à reeleição.
De resto, as conversas são mais genéricas, todos dizem, passando pelo livre mercado e a preocupação com o social.
A vacina é voltada especialmente para investidores e executivos que ainda estão céticos quanto à possível densidade política dele. A tese é de que ele faça uma série de conversas temáticas nas próximas semanas e escolha o quanto antes um medalhão para doutriná-lo no campo econômico e, assim, vencer as resistências no mercado.
Para transpor os obstáculos dentro do partido, o deputado Alessandro Molon (RJ) ganhou a confiança de Barbosa. Foi ele, por exemplo, o primeiro a dizer que era preciso conversar com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, antes de fazer a aproximação com o de São Paulo, Márcio França. No PSB, os dois são os mais avessos ao ministro aposentado, que não os ajuda na formação de alianças regionais. Câmara hoje parece menos resistente, mas quer que as discussões sobre a candidatura passem pelo coração das demandas pernambucanas, principalmente no setor energético.
França, apoiador de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Planalto, é encarado pelos aliados de Barbosa como qualquer pragmático: não mudará de ideia até ele se consolide como mais viável que o tucano, que hoje tem 8% em cenários sem o ex-presidente Lula.