Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de março de 2016
A aeronave que caiu no bairro da Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo, no sábado (19), matando o empresário Roger Agnelli, cinco pessoas de sua família e o piloto era norte-americana e voava no Brasil de forma experimental – ou seja, em teste para verificação de critérios de segurança e operação.
Morreram no acidente Agnelli, ex-presidente da Vale, Andrea Agnelli, sua mulher, Anna Carolina e João Agnelli, seus filhos, Parris Bittencourt, marido de Anna, Carolina Marques, namorada de João, e o piloto, Paulo Roberto Bau. A presidente Dilma Rousseff e a Vale lamentaram a morte do empresário por meio de notas.
Modelo CA-9, americano, voava em testes para o empresário Roger Agnelli desde 2012. (foto: reprodução)
O modelo CA-9, da norte-americana Comp Air Aviation, de prefixo PR-ZRA, não tinha nenhuma caixa-preta, caixa de voz e de dados, segundo a Força Aérea Brasileira. Por ser um monomotor e estar em caráter experimental, os dispositivos não são necessários, conforme a legislação brasileira, para este modelo de aeronave.
O modelo foi comprado por Agnelli e pertencia a ele desde dezembro de 2012, conforme os dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). O modelo estava com a documentação em dia e tinha capacidade para até 3.900 kg e 7 pessoas (incluindo o piloto). Ele é feito de fibra de carbono, tem asa alta e trem de pouso fixo. No site da companhia consta a informação de que a aeronave ainda não tem data para certificação nos Estados Unidos.
“Aeronave não certificada, voando em caráter experimental, não possui um nível de segurança confirmado para estar voando, é como se estivesse em teste, por conta e risco do proprietário”, explica o comandante Carlos Camacho, que atua na área de segurança operacional na aviação civil.
“Toda aeronave voando representa um risco, mas em uma aeronave experimental ele é bem maior. É uma grande irresponsabilidade manter este tipo de quesito, deveriam ser criados ao menos critérios básicos para garantir a segurança de uma aeronave experimental, certificando-as e aprovando-as para voarem no país”, defende Camacho.
‘Risco’
O advogado Augusto Fonseca da Costa perdeu o filho em janeiro de 2015 em queda de aeronave experimental em Toledo, no Paraná. Ele criou a Associação Brasileira de Vítimas da Aviação Civil, defendendo uma campanha contra a aviação experimental no país.
“Isso é uma irregularidade e iresponsabilidade absurda da Anac ao enquadrar aeronaves como experimentais para se furtar a critérios de segurança. Isso é uma bagunça total. Vários tipos de aeronaves de teste estão voando por aí no país sem critérios. São protótipos de laboratório, em fase de teste, que são colocados aos milhares no mercado, representando um risco ao consumidor”, afirma Augusto da Costa.
“Quem compra lê que é experimental mas não tem ideia do que isso significa, não sabe o que é. São produtos sem regras que matam pessoas todos os dias, foi o que matou meu filho”, defende o advogado. (AG)