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Baderna em janeiro

Os acontecimentos do dia 8 de janeiro deveriam ser definitivos, no sentido de esclarecer quem é quem no embate político brasileiro – que é vilão, quem é mocinho.

A (extrema) direita bolsonarista, feita de milicianos, pastores evangélicos fundamentalistas, ressentidos, marginais de cepa variada, empresários cascudos e ignorantes em geral, que não são poucos, investiram maciçamente na ideia de que as esquerdas constituem as forças da desordem e da ruptura democrática.

Lula, o PT, as esquerdas pretenderiam implantar o comunismo no Brasil, legalizar o aborto e o uso de drogas, fechar as igrejas e perseguir os cristãos. De nada valeu o argumento simples, irrespondível, de que se as esquerdas queriam acabar com a nossa liberdade, porque não começaram lá atrás quando o PT governou por 13 anos o Brasil? Por que então se abstiveram de qualquer medida que pudesse sugerir os objetivos totalitários?

O que estava em curso era a velha tática de todas as ditaduras, de atribuir aos outros o que eles mesmos estavam fazendo. O chefe da quadrilha totalitária era(e é) Jair Messias Bolsonaro, o “Mito” dessas hordas toscas, incivilizadas, dadas à violência. Gente de pouca leitura, de escassa nobreza de espírito, contingente sombrio incapaz de – mesmo à vista de todas as evidências – talvez mudar um pouco as concepções abraçadas com ardor e resolução.

Bolsonaro atravessou todo o governo afrontando os nossos melhores valores, as nossas mais notáveis conquistas, como a excelência, a precisão e a confiabilidade do sistema eleitoral e a nossa tradição de eficiência nos planos de vacinação em massa.

Não faltou, no começo do governo em 2019, um esforço de dobrar o Congresso Nacional para subordiná-lo aos objetivos espúrios e más intenções. Depois, confiando na baixa qualidade de nossa representação política, preferiu cooptá-la com verbas secretas do orçamento, favores e toda sorte de vantagens auferidas na calada da noite pelos pais da pátria. Iniciou-se uma ação predatória sem precedentes dos recursos públicos, à qual aderiram amplas faixas de parlamentares negociatas.

Depois foi a vez de assacar contra o Judiciário, como se aquele Poder existisse só para julgar a nosso favor. E no entanto, não fosse o Judiciário, o TSE, o STF, ministros como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso – os mais detestados pela multidão de ignorantes e ressentidos do bolsonarismo – teriam vencido a eleição de 2022, senão no voto, na marra.

Papel desprezível tiveram os chefes militares, principalmente do Exército, ao permitirem que as súcias golpistas acampassem ao redor de quartéis e casernas. Os militares não costumam se destacar pela inteligência. Mas foram além da conta ao ignorar (ou teria sido de propósito?) que estavam chocando o ovo da serpente da baderna. Cada acampamento era uma usina de doidões exaltados e em polvorosa.

De novo: os eventos dramáticos de 8 de janeiro escancararam à Nação quem são os vilões, os bandidos. As esquerdas, Lula, não são santos, mas perto dos tresloucados do janeiraço, perto dos bolsonaristas em epilepsia coletiva, são pouco mais do que adolescentes irrequietos.

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