Segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de fevereiro de 2025
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter afirmado na quarta-feira que a relação do governo com o PSD é “forte”, integrantes do partido já identificaram uma indisposição do petista em meio à reforma ministerial. O motivo, segundo integrantes do partido da base, é a crítica pública do presidente da sigla, Gilberto Kassab, de que Lula terá dificuldades para ganhar a eleição de 2026. Na quinta-feira, o próprio dirigente mudou de tom, e afirmou que o petista poderia mudar o cenário.
Desde que Kassab disparou críticas contra Lula, parlamentares do PSD iniciaram uma operação para botar panos quentes na relação. A legenda saiu forte das eleições municipais e tem a maior bancada do Senado e uma das maiores da Câmara. Diante do mal-estar, o governo procurou entender o objetivo do dirigente partidário.
A fala de Kassab foi comentada, por exemplo, durante um jantar na semana passada, que contou com a presença do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e de seu antecessor, Rodrigo Pacheco (MG), do mesmo partido de Kassab. Segundo relatos, Pacheco fez coro ao sentimento geral de estranhamento com as declarações. Além de dizer que Lula perderia a eleição, o chefe do PSD avaliou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não tinha respaldo político para implementar sua agenda e que era “fraco”.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que também é do PSD, foi outro a conversar com Kassab sobre o assunto, quando o dirigente partidário estava em Brasília na semana passada. Em outro jantar, feito pela bancada do PSD da Câmara em homenagem ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), o assunto também foi mencionado.
Kassab e Silveira estavam presentes no evento. Segundo participantes do encontro, o presidente do PSD se explicou e disse que não esperava a repercussão que as declarações tiveram. Kassab tentou baixar o tom da crise ao falar que não quis dar recado ao governo e que fez apenas “uma análise fria”.
Mas a insatisfação do PSD com o governo é anterior a essas declarações. Os deputados do PSD querem transferir André de Paula do Ministério da Pesca para o do Turismo e reclamam da possibilidade de a sigla perder a pasta da Agricultura na reforma ministerial.
Recado ao planalto
Parte da bancada do partido vê nas críticas de Kassab uma maneira de expor essa insatisfação ao governo. Essa ala do PSD, que se concentra principalmente na Câmara, avalia que o Palácio do Planalto tem “enrolado” o partido ao não deixar claro quando será feita uma reunião para tratar de espaços nos ministérios.
O entendimento também é que, ao falar sobre o governo federal e especificamente sobre Haddad, que disputou o governo de São Paulo com Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 2022, Kassab quer fazer um aceno ao governador.
Mesmo com o partido em atrito com o governo, Pacheco é um dos nomes cotados para compor a Esplanada. Ele e Lula têm trocado sucessivos elogios desde o início do ano. O ex-presidente do Senado tem dado respaldo a Haddad, assim como fez Alcolumbre, seu padrinho.
Em meio à crise, Lula fez um aceno ao partido ao dizer, em entrevistas a rádios de Minas Gerais, que Alexandre Silveira vai ficar no cargo. O ministro tem sido alvo de Alcolumbre, que começou um movimento para tirá-lo da função.
Diante da pressão para uma conversa com o partido de Kassab, Lula disse que vai aguardar Pacheco voltar de férias, no final do mês, para fazer uma reunião com o senador, com os ministros do PSD e com o presidente da legenda.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que é próxima de Kassab, minimiza as declarações do presidente do PSD. De acordo com ela, o assunto foi encerrado na semana passada, quando Lula respondeu ao dirigente. Na ocasião, Lula disse que a eleição estava muito longe e que riu das críticas do dirigente do PSD.
“O presidente respondeu à altura”, afirmou Hoffmann.
A bancada do PSD no Senado tem agido para diminuir a temperatura da crise. Os senadores Omar Aziz (AM), líder do partido, e Otto Alencar (BA), que deverá ser escolhido para comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na semana que vem, dizem que o partido apoia o governo e elogia Haddad.
“O Kassab fez uma crítica pontual. Respeito o presidente Kassab, tenho o maior carinho por ele. É o grande presidente do nosso partido, mas é um partido que no Norte e Nordeste dá um apoio muito pesado ao governo do presidente Lula”, disse Aziz, que discorda da forma como Haddad foi classificado. “Teve seis ou sete matérias importantes votadas na área econômica em dois anos só.”
Otto Alencar diz que Haddad é “vitorioso”:
“O Kassab fala o que ele acha que tem que falar. Isso não abala a estrutura nossa no Senado. O Haddad como ministro aprovou tudo no Congresso, ele foi vitorioso.” As informações são do jornal O Globo.