A bancada feminina do Senado faz um esforço para tentar viabilizar uma candidatura do grupo à presidência do Casa em 2025. A ofensiva envolve viagens por todo o país lideradas por Eliziane Gama (PSD-MA), que está licenciada do cargo, e Soraya Thronicke (Podemos-MS) em busca de apoio dos demais parlamentares. Na Câmara, por sua vez, não há indicativo de haver uma mulher no próximo pleito.
Eliziane e Soraya se apresentam como pré-candidatas, mas têm um acordo para que apenas uma delas dispute efetivamente a eleição. O critério será com base naquela considerada com maiores chances de vencer.
“É difícil até manter o processo de candidatura quando se trata de mulheres. As pressões são muito grandes. Tudo fica muito difícil. Por isso, acaba que às vezes há uma desistência ou nem se constitui uma candidatura”, disse Eliziane ao jornal Valor Econômico, durante uma das viagens da dupla.
“Temos que ter uma estratégia. Não é simples o rompimento de 200 anos de um Congresso sem ter uma mulher na Presidência. Só conseguiremos ganhar se tivermos um projeto planejado. É nisso que estamos trabalhando.”
Na rodada de conversas, Eliziane e Soraya começaram com um encontro no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com relatos, Lula evitou se comprometer com qualquer candidatura, mas as incentivou a continuar buscando apoio. Elas também falaram com os presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do Podemos, Renata Abreu.
Agora, as congressistas estão indo aos Estados dos outros senadores em busca de diálogo. A dupla já passou pelo Sergipe, por Alagoas e pelo Rio Grande do Norte. Ainda assim, os integrantes da Casa costumam ser unânimes ao reconhecer o favoritismo do ex-presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na eleição. O périplo das parlamentares, por sua vez, muitas vezes é encarado nos bastidores com ceticismo ou até tom de deboche.
Ao falar da pré-candidatura, Soraya Thronicke tem ressaltado que as agendas em campanha pelo país são a prova “de que o projeto é pra valer”. Ela também alega que o projeto tem aprovação não só da maioria da bancada feminina, mas também de homens “que entendem que é o momento de oxigenar o Senado”.
Tanto a Câmara como o Senado nunca tiveram uma presidente mulher em toda a sua história. No Senado, até mesmo postulantes ao comando da Casa são raras. A primeira candidata a disputar foi a então senadora Simone Tebet (MDB), em 2021.
As mulheres também têm dificuldade para assumir vaga de titular na Mesa Diretora. Atualmente, não há nenhuma mulher no Senado. Na Câmara, apenas a deputada Maria do Rosário (PT-RS) integra a composição.
“Como a Câmara é uma Casa pautada pelo colégio de líderes partidários, o fato de as mulheres não estarem nas lideranças dos partidos estabelece um bloqueio para a participação na estrutura diretiva de ambas as Casas”, disse Rosário ao jornal Valor Econômico.
Dos quatro candidatos colocados na disputa que ocorrerá em 2025 para suceder a Arthur Lira (PP-AL), Marcos Pereira (Republicanos-SP) está à frente da vice-presidência da Câmara, enquanto Elmar Nascimento (União-BA), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) são líderes de suas bancadas.
Um dos principais nomes da bancada feminina, a deputada Soraya Santos (PL-RJ) admite dificuldades de articulação do grupo por uma candidatura feminina. Na visão dela, isso ocorre porque as negociações tendem a priorizar questões partidárias em detrimento de outros critérios, entre eles, o gênero. Apesar disso, Soraya, que já foi primeira-secretária da Casa, destaca que a composição da direção da Câmara tem ficado mais diversa nos últimos anos e vem contando com maior participação feminina.
Na avaliação de parlamentares mulheres, a presença feminina nos principais cargos da Casa deve aumentar conforme a participação de mulheres na política crescer. Atualmente, as mulheres ocupam 18% das cadeiras do Congresso Nacional.
Primeira mulher a disputar uma vaga à presidência da Câmara, em 2013, e a ocupar um lugar de titular na Comissão Diretora da Casa, em 2011, a ex-deputada e ex-senadora Rose de Freitas (MDB-ES) destaca que só conseguiu espaço porque enfrentou o seu próprio partido. “O propósito era exatamente conquistar espaço para as mulheres. Mas isso já era uma coisa difícil, principalmente em função da supremacia masculina nas duas Casas e na política como um todo. É uma cultura secular de desigualdade e machismo”, avaliou Freitas.
“Eu tive a ousadia de dizer: ‘ei, não pode ser sempre assim, também tem mulher no Congresso’”, acrescentou a ex-senadora. As informações são do jornal Valor Econômico.