O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), vê com ceticismo a possibilidade de assinatura do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE). Após 25 anos de discussão, ele avalia que o tema já causou mais receio em outras épocas, mas ainda considera o tratado como “morno” e apenas “razoável” para o agronegócio brasileiro.
Os protestos na Europa contra o tratado, as críticas da França aos produtos sul-americanos e posições contrárias de uruguaios e argentinos aos termos negociados até então abastecem as dúvidas sobre a concretização do acordo.
“Eles [europeus] não têm interesse mais no acordo. Para nós aqui, o tratado é morno, não ganha nem perde (…) Ninguém ganha nada com isso”, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico.
“Pela demonstração da França e o tamanho do protesto no parlamento francês, isso deve desencadear a mesma situação em outros países que estão defendendo o interesse deles, como nós temos que defender o nosso. Não temos uma expectativa muito positiva, mas não perdemos muita coisa se não assinar”, acrescentou.
Com a onda protecionista crescente na Europa e uma postura semelhante nos Estados Unidos, Lupion vê espaço para o Brasil em outros mercados, como a Ásia. Em janeiro, uma missão com parlamentares da FPA e representantes do setor produtivo deve visitar o Parlamento Europeu para tratar das pautas de interesse do agro. No Brasil, uma das prioridades da frente é avançar com uma lei de reciprocidade ambiental e econômica para impor exigências aos países que exportam para cá.
Reeleito para mais dois anos na presidência da FPA, a maior frente do Congresso Nacional com 356 membros, Lupion disse que a bancada ruralista deve transcender a dicotomia entre governo e oposição e atuar com pragmatismo para ver caminhar as pautas convergentes do setor.
Crítico do que considera falta de articulação do atual governo e opositor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele afirmou que manterá a postura combativa para fazer o enfrentamento quando necessário, mas reconhecerá os eventuais acertos do Executivo com a pauta do campo.
Lupion afirmou que “todos os setores têm dificuldade de articulação política” com o governo. “Obviamente, fazemos o que tem que fazer, como as reuniões com os ministros, mas isso não necessariamente resolve alguma coisa”, disse.
“As nossas pautas estão aí, e muita gente que apoia o governo apoia nossas pautas. A FPA tem que transcender essa questão de governo e oposição, é mais questão de ter pautas convergentes para tratar do setor”, acrescentou.
O mandato de Lupion terminaria em fevereiro de 2025 e foi estendido até fevereiro de 2027, no fim desta legislatura. Para isso, houve uma mudança no estatuto da bancada. A permanência, disse ele, foi uma questão de conjuntura e de momento, além do posicionamento político e ideológico e do jogo de cintura na articulação em Brasília.
Na última terça-feira, após a reeleição, a bancada recebeu o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), a quem oficializou o apoio como candidato para a presidência da Câmara. As informações são do site Globo Rural.