O Banco Central Europeu (BCE) iniciou um processo vigoroso de alta de juros para conter a inflação, que atingiu 8,5% (anuais) em fevereiro, e provoca desaceleração da economia da região. A presidente da instituição, Christine Lagarde, manifestou recentemente que o movimento é essencial para levar o índice de preços ao consumidor novamente à meta de 2,0% e para controlar a força do mercado de trabalho, sobretudo a alta dos salários.
“O BCE não quer que, no momento em que está conseguindo baixar a inflação, os salários se tornem um fator que eleve novamente os preços de serviços e de mercadorias”, comentou Marco Valli, economista-chefe para a Europa do banco UniCredit.
Apesar das boas condições do mercado de trabalho na Europa, alguns fatores impõem moderação às negociações salariais, ajudando o trabalho do BCE e aliviando a pressão desse item na inflação. A taxa de desemprego é maior do que em outras economias avançadas, como EUA e Japão, a competitividade das empresas do setor manufatureiro é muito baseada na contenção de custos e os preços de energia exercem um peso grande na produção das indústrias. Isso reduz as margens para elevação de salários, aponta Gregorio De Felice, economista-chefe do banco Intesa Sanpaolo.
Impacto no emprego
“O mercado de trabalho na Europa é apertado, mas suas condições atuais não devem gerar aumentos substanciais de salários a ponto de dificultar o trabalho do Banco Central Europeu para controlar a inflação”, comentou De Felice. Ele estima que a remuneração dos trabalhadores deverá apresentar uma elevação média de 2,8% neste ano, enquanto o índice de preços ao consumidor deve ter um aumento médio de 6%.
Esse é um dos elementos que ajudam o BCE a manter ancoradas as expectativas relativas à tendência dos índices de preços ao consumidor no médio prazo.
Outro fator importante é que os sindicatos dos trabalhadores perderam poder de negociação com as empresas nas últimas duas décadas, devido a vários motivos, especialmente a mudança de empresas para o leste do continente e para países asiáticos.
Ainda assim, a força da política monetária restritiva na Europa – a expectativa é de que o juro, hoje em 2,5%, alcance 3,75% – deverá continuar nos próximos meses. Yvan Mamalet, economista sênior do banco Societe Generale, aponta que a taxa de desemprego tende a subir dos atuais 6,6% para 6,8% no final do ano, marca que deverá ficar estável naquele nível até o encerramento de 2024.
Para ele, as companhias devem seguir buscando contratar, num contexto de crescimento esperado de 1% do PIB do continente em 2023 e de 1,1% em 2024.
O Banco Central Europeu (BCE) provavelmente só iniciará o lento processo de redução dos juros no início do terceiro trimestre de 2024, para que a inflação recue e atinja 2,3% (anuais) em dezembro do próximo ano, estima Marco Valli, economista-chefe para a Europa do UniCredit. Mas, para viabilizar tal redução do índice de preços ao consumidor, o banco central com sede em Frankfurt precisará ir devagar na distensão da política monetária. Ele espera que os juros apenas baixem 0,75 ponto porcentual no segundo semestre de 2024.