Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de fevereiro de 2025
Os saldos negativos do balanço de contas correntes com o exterior têm aumentado com o buraco nas contas públicas
Foto: DivulgaçãoAs contas externas, que pareciam não ser mais um problema da economia brasileira, voltaram a chamar a atenção do mercado diante das saídas de dólares por conta da intervenção do Banco Central (BC) no câmbio em dezembro de 2024, a maior da história do regime de flutuação, em paralelo à piora no déficit das transações correntes (entradas e saídas de recursos) do País com o mundo.
O cenário não é considerado alarmante pelos economistas, pois a desaceleração econômica, aliada ao dólar mais caro, tende a reduzir as importações. Além disso, há confiança de que o BC não retomará a venda de dólares com a mesma intensidade. Os indicadores de contas externas, no entanto, voltaram a merecer acompanhamento especial pelo risco de o Brasil se tornar mais vulnerável a choques internacionais.
As políticas do governo de Donald Trump, com barreiras comerciais e deportação de imigrantes, apontam para um mundo onde o dólar circula com menor fluidez. Já no Brasil, os saldos negativos do balanço de contas correntes com o exterior têm aumentado com o buraco nas contas públicas, num déficit duplo que leva analistas a questionar se a depreciação cambial dos últimos sete meses tem algo de estrutural.
Os investimentos estrangeiros diretos no Brasil, superiores a US$ 71 bilhões (R$ 408 bilhões) no ano passado, não financiam mais com tanta folga o déficit nas transações correntes, que mais do que dobrou: de US$ 24,5 bilhões, ou 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2023; para US$ 56 bilhões, ou 2,5% do PIB, em 2024.
A cobertura da dívida externa é a menor em 17 anos. Conforme dados estimados pelo BC, a soma das reservas internacionais, créditos brasileiros no exterior e haveres de bancos comerciais terminou dezembro superando a dívida externa bruta em menos de US$ 5 bilhões. É a menor sobra desde setembro de 2007, quando o Brasil não tinha cobertura para toda a sua dívida externa.
Em entrevista recente, o economista-chefe do Andbank, Alex Fuste, considerou que, embora tenha US$ 329,7 bilhões em reservas, o Brasil se tornou mais vulnerável a choques vindos do exterior.
“Como o que temos pela frente, fruto da estratégia de tarifas (de Trump), é um choque externo por escassez de dólares, posso dizer que o Brasil hoje está em situação mais vulnerável. Isso é o que nós, investidores com foco em mercados emergentes, observamos”, comentou.
Diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour observa que as saídas de dólares no fim do ano passado tiraram as contas externas da zona de conforto. “Está piorando de uma maneira mais acelerada. Não tem mais folga no balanço de pagamentos”, comentou. “O déficit fiscal é muito alto, e o de contas correntes está se deteriorando em velocidade muito forte. Passa a ser um problema, sim”, acrescenta. (Estadão Conteúdo)