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Banqueiro diz que não é possível um país crescer sem respeitar meta de inflação e dívida interna

Luiz Carlos Trabuco é presidente do Conselho de Administração do Bradesco. (Foto: Arquivo/O Sul)

O presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, avalia que o novo crédito consignado privado vai propiciar alívio para o trabalhador que estiver endividado e dar alento à atividade econômica. Ele prevê uma disputa entre os bancos por novos clientes: “Estaremos ativos para ocupar os espaços possíveis”.

Trabuci diz que haverá uma melhora do perfil de crédito neste momento de política de juros mais apertada: “Isso pode ajudar no consumo, mas não haverá uma explosão nas vendas do comércio e dos serviços”, avalia ele ao comentar o risco de uma oferta maior de crédito atrapalhar o trabalho do Banco Central de esfriar o crescimento para controlar a inflação”.

E acrescenta: “Não dá para crescer por crescer sem respeitar os limites de sustentação da meta de inflação, do balanço de pagamentos e da dívida interna. Não dá também para ficar no discurso do ajuste fiscal pelo ajuste fiscal. O crescimento não pode ser demonizado”.

Questões

Para o banqueiro, a política fiscal merece preocupação, mas não é um problema de “vida ou de morte”. Confira, a seguir, os trechos de entrevista concedida ao jornal “Folha de São Paulo”.

– O governo lançou consignado privado com expectativa de ser uma das principais medidas econômicas do ano. Qual o potencial?

É uma medida importante. Terá impacto no consumo, mas seu principal efeito não será esse. Por ser implantada de forma gradual, até para dar segurança ao processo, seus efeitos serão sentidos ao longo do tempo. O principal deles será melhorar o perfil da dívida de milhões de pessoas quando entrar em operação a funcionalidade de migração das dívidas antigas, que têm juros mais altos.

Esse movimento de mudança de uma linha mais cara para uma mais barata vai acontecer a partir de abril, quando a economia deverá estar sentindo os resultados de uma taxa Selic mais alta. Vejo com bons olhos essa melhora geral do rating de crédito do país, num momento de política monetária mais apertada. Também será um contraponto saudável para os balanços do sistema financeiro na linha da inadimplência.

– Qual a principal vantagem do novo modelo?

A construção do consignado público [para servidores] e do INSS [aposentados e pensionistas] é de quase 20 anos. Estávamos devendo, governo e sistema financeiro, essa trilha. Haverá uma melhoria do crédito, saindo do crédito pessoal sem garantias. Agora, tem uma âncora, que é o emprego. Quando tem emprego e salário, melhora a precificação, conseguimos montar grupo de clientes, em cima de rendas, de regiões. O programa é ambicioso e é bom que seja assim.

– O governo prevê uma disputa acirrada entre os bancos. É isso que vai acontecer?

O setor financeiro brasileiro é um dos mais competitivos do mundo, pois aqui convivem instituições sólidas e fortes disputando os mesmos mercados. Temos dois grandes bancos federais, um banco de fomento federal e mais um grupo de privados com poder concorrencial. Haverá disputa, e nós, do Bradesco, estaremos ativos para ocupar os espaços possíveis.

– Maior oferta de crédito com o novo consignado não vai na contramão da ação do BC para esfriar a economia?

Pode ajudar no consumo, mas não haverá uma explosão nas vendas do comércio e dos serviços. Minha visão é o seu benefício para o perfil da dívida das pessoas, pela troca de uma linha mais cara por outra mais barata.

De qualquer modo, a salvaguarda é que a taxa de juros está alta. É um juro bastante restritivo, como já deu para perceber pelos dados do PIB [Produto Interno Bruto] do quarto trimestre. Como é de interesse de todos, é um juro real que vai fazer a inflação ceder ao longo do ano. Portanto, essa linha do consignado, vai propiciar alívio para quem está endividado, além de dar um alento na atividade. O juro alto é necessário no contexto da inflação. Mas todo remédio tem dosagem e tempo de aplicação. É uma ciência que o Banco Central vai saber resolver.

– Sem nova medida fiscal, como já adiantou o presidente Lula, qual o caminho?

O caminho é seguir os preceitos do tripé macroeconômico que mostrou que dá certo, dólar flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal. A questão é que existe hoje um quarto componente que são as expectativas do mercado. Para você conseguir resolver essa questão das expectativas, será preciso perseverança, paciência e ficar um tempo à frente da curva de preços. (Folha de São Paulo)

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