Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2019
Uma base militar secreta norte-americana abandonada no auge da Guerra Fria e que foi totalmente coberta por camadas de gelo na Groenlândia está lentamente retornando à superfície e eventualmente pode cair no mar, segundo revelou um relatório publicado por cientistas dinamarqueses. As informações são do portal G1.
Pesquisas feitas com radares, entretanto, indicaram que a base, conhecida como Camp Century, ainda está a 100 km da borda da calota polar, e que “levará muitos, muitos anos antes de chegar a um ponto crítico”, segundo a glaciologista dinamarquesa Nanna Karlsson.
Mas, como relata o canal dinamarquês TV2, “as mudanças climáticas colocaram em dúvida este plano”, porque o gelo da Groenlândia está derretendo.
Risco ambiental
Ruth Mottram, do Instituto Meteorológico Dinamarquês, diz que a camada de gelo da Groenlândia parece ter encolhido mais no último mês do que a média de um ano inteiro desde 2002, segundo dados provisórios de satélite.
Os governos da Dinamarca e da Groenlândia montaram um programa de monitoramento climático em 2017 para rastrear os restos do Camp Century. O mais recente relatório de Karlsson e seus colegas do GEUS (Serviço Geológico da Dinamarca e Groenlândia) usa dados de radar para detalhar o quanto a base se moveu desde 1959.
Os cientistas percorreram a calota de gelo há dois anos, arrastando consigo dispositivos de radar. Karlsson diz que foram localizadas as formas cônicas dos tetos dos túneis a uma profundidade de 50 metros.
A expedição também descobriu que a base e suas estimadas 9,2 mil toneladas de sucata e resíduos de óleos, que representam um risco ambiental, além da preocupação gerada pelos resíduos radioativos do reator nuclear, estão afundando.
Os cientistas do GEUS dizem que o afundamento da base “pode ter um impacto no tempo que a instalação vai levar para emergir do gelo”, relata a TV2.
Fica a questão sobre quem vai limpar a “sujeira”, dado que a base foi construída sob um acordo EUA-Dinamarca – portanto, sem que o povo da Groenlândia tivesse voz na época.
O acordo “permitiu ao Camp Century afundar no gelo com tudo o que continha, incluindo poluentes”, reclamou o ministro das Finanças da Groenlândia, Vittus Qujaukitsoq, ao site de notícias dinamarquês Altinget no ano passado, indicando que o governo da ilha espera que a Dinamarca e os EUA estejam prontos para assumir a responsabilidade quando a base emergir.
Teme-se que a base possa lançar ao mar resíduos químicos e nucleares – e causar problemas ao ecossistema da região.
William Colgan, cientista especializado em clima e geleiras, afirma que a incerteza sobre quem assumirá a função de dar conta deste esqueleto da Guerra Fria poderia criar “uma forma totalmente nova de disputa política, resultante das mudanças climáticas”.