Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de dezembro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu chegar ao final de 2025 com o pacote fiscal e a regulamentação da reforma tributária aprovados. Mas isso está longe de significar uma boa relação com o Congresso. Ao contrário disso, o ano termina com uma reclamação que ganha eco entre as principais lideranças da Câmara e do Senado: o petista conversa menos hoje com deputados e senadores do que a ex-presidente Dilma Rousseff, conhecida pelo descaso com a articulação política.
Na avaliação de um dos maiores nomes do Centrão que conversou com a Coluna do Estadão, superar essa barreira entre o presidente da República e os congressistas será um dos principais desafios do Palácio do Planalto na segunda metade do mandato. A aproximação e “a conversa olho no olho” são fundamentais para o avanço da agenda do governo no Congresso.
A reivindicação está pulverizada por toda a base governista e avança do Centrão para integrantes da esquerda, inclusive do próprio PT de Lula. Eles lembram que em seus governos anteriores, o petista era conhecido pelos churrascos e confraternizações com a classe política, um dos fatores que garantia um ambiente mais tranquilo no Congresso. Hoje, a queixa é que esses encontros fazem falta no dia a dia das negociações.
Apesar da comparação com Dilma, ninguém no Centrão acredita que Lula terá o mesmo destino da petista, cujo impeachment é em parte atribuído à falta de traquejo político. Entretanto, o alerta disparado é de que se Lula não melhorar a relação direta com o Congresso, pode afetar o desempenho do governo e continuar com a popularidade despencando, o que pode até inviabilizar a própria candidatura à reeleição em 2026.
“Carta na manga”
Apesar de ter esfriado, o impasse entre os três Poderes sobre as emendas parlamentares não terminou. Nos bastidores, a cúpula do Congresso afirma que tem uma “carta na manga” caso haja um novo “ataque” à liberação dos recursos. É uma proposta de emenda à Constituição (PEC), de autoria de Altineu Côrtes (PL-RJ), que pode acabar com a governabilidade do presidente Lula.
O projeto do parlamentar oposicionista transfere as verbas das emendas de comissão para as individuais, ou seja, torna todas as emendas impositivas (de pagamento obrigatório). Em conversas com aliados, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem dito que essa seria uma medida extrema e “politicamente insustentável” para o Palácio do Planalto.
Lideranças do Congresso avaliam que, se aumentar a insatisfação dos deputados e senadores com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a execução das emendas de comissão, “ninguém segura” a PEC no plenário. Para um integrante do Centrão, seria “o fim de qualquer governo”, porque o Executivo perderia qualquer margem de negociação no Legislativo. (Estadão Conteúdo)