Wladimir Costa entrou em campo, faltando poucos minutos para terminar o jogo, avançou inesperadamente pelo miolo da área e passou para Tia Eron, que chutou forte. A bola veio em curva, bateu na trave e balançou as redes para delírio da imensa torcida que já estava impaciente.
Um narrador de futebol descreveria assim o que aconteceu ontem na Comissão de Ética da Câmara.
VIRADAS
A aprovação do pedido de cassação de Eduardo Cunha teve duas surpresas. A primeira foi Wladimir Costa, do Solidariedade, do Pará. Deputado no terceiro mandato, é radialista, cantor e empresário. A expectativa era de que votasse a favor de Cunha. A outra coube à Tia Eron, do PRB da Bahia, que manteve suspense até o último momento.
ALTA PRESSÃO
A decisão final sobre Cunha no plenário dependerá de 257 votos favoráveis à sua cassação. Mesmo que os parlamentares costumem se autoproteger, não terá escapatória. O balão de acusações contra ele inflou muito. Bastará uma agulhada na superfície, que tomará o rumo da porta de saída.
BLOQUEADA
Os deputados tiveram o direito de chegar a seus gabinetes e ao plenário, mas usando o portão da garagem do Palácio Farroupilha. A entrada principal estava tomada por estudantes, muitos mascarados, que não suportam o que os outros têm a dizer.
Na sessão, o deputado Vinícius Ribeiro identificou-os como defensores de uma das chapas que disputará a presidência do Cpers. Tornaram-se, portanto, massa de manobras.
SUGESTÃO ESDRÚXULA
Uma das exigências dos alunos é a retirada do projeto de lei que orienta a criação de Organizações Sociais no Estado, existentes na União há 18 anos. Deverão substituir as organizações não-governamentais, que se tornaram sumidouro de dinheiro público.
Excluir pela força projeto em tramitação é atitude costumeira do autoritarismo. A menos que o Legislativo queira abdicar de sua principal função.
SEM HOLOFOTES
A expectativa de parte dos invasores da Assembleia era a forte intervenção de soldados da Brigada Militar. Renderia material visual para farta distribuição e proveito político. Por enquanto, deram-se mal.
PARA FIXAR LIMITE
O debate mais decisivo passa a ser em torno da Proposta de Emenda Constitucional propondo um teto para o crescimento do gasto público federal, que não poderá ter índice maior do que a inflação. O presidente Michel Temer irá ao Congresso para defender a única medida capaz de estancar o aumento assustador da dívida pública.
NÃO TEM SAÍDA
Em algum momento, o gasto público deverá parar de crescer e ficar no nível da receita. Se isso não ocorrer, o governo terá alternativas: 1) aumentar impostos; 2) endividar-se mais ainda, pagando juros astronômicos.
RÁPIDAS
* Vai se formar uma frente na Assembleia Legislativa para debater o auxílio-moradia para os membros do Judiciário.
* O País está nas mãos dos delatores da Operação Lava Jato, que podem ser chamados de sinceros tardios.
* A 15 de janeiro de 1966, o MDB decidiu abster-se nas eleições indiretas à Presidência da República e aos governos estaduais.
* Depois de assistir a programas obrigatórios de propaganda partidária alguns redefinem TV: Terror Visual.