Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2015
Como Fernando Henrique Cardoso, o presidente George H. W. Bush (o pai) também tinha o hábito de usar um gravador para registrar seus pensamentos e ações de cada dia. Mas, em vez de publicar esses registros na íntegra, praticamente sem edição, como está fazendo FHC, Bush preferiu oferecer as gravações a um jornalista para escrever uma biografia autorizada, que acaba de ser lançada.
As confidências gravadas por Bush em princípio apenas para si próprio, agora que vêm a público, estão deixando muita gente descontente. No caso de Bush, até os próprios filhos. Sempre se soube que Bush 41 (como ficou conhecido depois que George W. Bush se elegeu o 43º presidente dos EUA, em 2000, para diferenciar um do outro) discordou do modo como o filho lidou com a questão do Iraque.
Bush pai com os filhos George e Jeb, que tenta conseguir a indicação do Partido Republicano para disputar a Presidência em 2016. (Foto: Reprodução)
Mas impressiona como ele é duro, nem tanto diretamente com W, mas com seu vice, Dick Cheney, e seu secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. Como W. era o responsável final pela ação dos dois, 41 também o acaba atingindo. Ele condena a retórica pesada e sectária e as táticas bélicas radicais adotadas após o 11 de Setembro pelos EUA.
Isso bate em W., mas também afeta diretamente o outro filho, Jeb, que tenta conseguir a indicação do Partido Republicano para disputar a Presidência em 2016 e tem tido sérias dificuldades por causa da impopularidade do irmão, que parece se estender até ao ambiente doméstico.
41, que está com 91 anos e perfeitamente lúcido, resolveu não fazer autobiografia, ao contrário de todos os seus predecessores a partir de Richard Nixon. A tarefa de narrar sua vida coube ao jornalista Jon Meacham, que faz um bom trabalho para quem foi contratado para construir uma versão edulcorada e simpática do personagem.
De modo geral, apesar do tom por vezes laudatório demais, Meacham é justo ao retratar Bush 41 como “o último cavalheiro” a ocupar a Presidência e o último líder republicano importante a não se render à ala ultraconservadora que obteve a hegemonia do partido e pode o estar levando à destruição.
Meacham traça um retrato correto da personalidade de 41, pessoa discreta, moderada, cautelosa, simpática. E faz bem a lição de casa dos dados objetivos da vida de Bush. Além de W. (que em 2014 publicou um livro afetuoso e totalmente acrítico sobre o pai) e seus assessores, quem também saiu machucado no livro foi Bill Clinton, com quem 41 desenvolveu notória amizade depois de os dois terem deixado a Casa Branca.
Na noite em que perdeu a reeleição para Clinton, Bush disse que não se conformava de ter sido derrotado por alguém que se recusara a servir ao país (Clinton evitou ser convocado para a Guerra do Vietnã). E, mesmo mais recentemente, ele diz que Clinton “não para de falar o tempo todo”, “não tem vergonha”.
Os que aparecem mal na foto, claro, todos procuraram minimizar o mal-estar. Mas para Jeb Bush, que muitos conhecedores da dinastia sempre acharam ser o filho preferido de 41 e Barbara, os efeitos serão piores, pois na sua já complicada campanha abriu-se mais um flanco com a publicação desse livro. Nem o Brasil (onde 41 esteve duas vezes) nem nenhum brasileiro (ele teve várias reuniões com Collor) são mencionados no livro.
