Sábado, 08 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2017
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
“Quem fala demais dá bom-dia a cavalo”, diz o brasileiro sabido. “Não é por acaso”, ensinam os árabes”, que nascemos com dois olhos, dois ouvidos e uma boca. É para observar mais, ouvir mais e falar menos.” A lembrança vem a propósito da falação de Joesley Batista. O homem não tem freios na língua. Resultado: caiu na rede da Justiça.
A operação recebeu o nome de Boca della Verità. Tradução: boca da verdade. Trata-se de imagem de uma cara humana esculpida em mármore. Quem for a Roma pode vê-la ao vivo e em cores. Conta a lenda que se trata do mais antigo detector de mentira. O inimigo da verdade punha a mão na boca da criatura. Se bancasse o espertinho, ops! A mão ia pra barriga da comilona.
Ao trazer a personagem para esta Pindorama tropical, pintou uma questão. Qual o aumentativo de boca? O povo fala em bocão e bocona. Se quiser ser sofisticado, há termos mais eruditos. É o caso de bocarra, boqueirão e bocaça. Você escolhe – sempre de olho na adequação.
Parceiros
A política se transformou em crônica policial. Dois verbos sobressaem. Um deles: mentir. Mente-se com a naturalidade de quem anda pra frente. O outro: aderir. Apanhados pela boca della verità tupiniquim, os falsários aderem à delação premiada. Revelam a verdade e reduzem os anos atrás das grades.
As duas ações têm um denominador comum. Conjugam-se do mesmo jeitinho: minto (adiro), mente (adere), mentimos (aderimos), mentem (aderem); que eu minta (adira), ele minta (adira), nós mintamos (adiramos), eles mintam (adiram). E por aí vai.
Nós vai preso
“Nós não vai preso”, repete e repete Joesley Batista nos áudios divulgados por rádios, tevês, blogues, sites etc. e tal. De tanto ouvir a frase, pintou a dúvida na cabeça de pessoas desavisadas. A frase está certa?
Olho vivo, moçada! Populações iletradas nunca aprenderam flexão verbal. Elas dizem eu era, tu era, ele era, nós era, eles era & cia. ilimitada. A gente respeita. Mas quem frequentou a escola aprende que o verbo concorda com o sujeito: eu vou, ele vai, nós vamos, eles vão.
Joesley pisou a bola duas vezes. Uma na concordância. A outra: na avaliação. Nós vamos pra cadeia. Nós estamos na cadeia.
Cama e água
As qualidades do estilo? São três. Uma: clareza. Outra: clareza. A última: clareza. O Correio cochilou. Na primeira página de ontem, escreveu: “Cama de concreto e água fria na cadeia”. Pobre do leitor. Numa primeira passagem de olhos, ele entende que a cama era de concreto e água fria. O problema? A ordem de colocação dos termos. Melhor jogar limpo. Assim: Na cadeia, água fria e cama de concreto. Simples assim.
Nãoooooooooo
O Bom Dia, Brasil de ontem disse que o advogado é “amigo pessoal de Temer”. Ops! Desperdiçou palavras. Todo amigo é pessoal, como todo elo é de ligação, todo país é do mundo, todo panorama é geral. Basta amigo de Temer.
Cavalos e cadeias
“Joesley chora ao chegar à sela da PF”, escreveu o Estadão. Francisco Rabello viu. E ironizou: “Decerto Joesley pensou que seria encilhado, cavalgado e esporado. Por isso chorou.” Viu? O jornal trocou as letras: sela é arreio de cavalgadura; cela, quartinho de frades, freiras, presidiários.
Leitor pergunta
Ora ou hora? Como a pronúncia é a mesma, sempre confundo as duas grafias. Pode me dar uma dica? (Helena Sereno, BH)
Hora, com h, significa 60 minutos: A velocidade na via é de 80km por hora. Ganho R$ 120 por hora de trabalho. Divirta-se a qualquer hora. Como diz o outro, toda hora é hora.
Ora, sem h, quer dizer por enquanto, por agora: Por ora, a velocidade da via é de 80km por hora. O governo não pretende, por ora, privatizar as universidades federais. Lamento, mas, por ora, nada posso fazer.
Recado
“Separar o joio do trigo é um longo caminho.”
Sonia Racy
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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