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Boicote pode se tornar censura?

As inscrições podem ser realizadas até 30 de março. (Foto: Divulgação)

De que 2020 foi um ano atípico, todo mundo está ciente. No entanto, os reflexos das mudanças sociais provocadas ainda estão sendo processados e compreendidos. A pandemia acelerou ainda mais o processo de “digitalização” das relações humanas. A população, que recentemente já havia entendido a força das redes sociais para criar mobilizações, agora descobriu seu potencial de funcionar como panela de pressão.

Criou-se a cultura do cancelamento. Diversos boicotes foram feitos ao longo do ano, tanto contra pessoas quanto contra empresas. Leandro Narloch, por exemplo, foi demitido da CNN por, teoricamente, ter realizado um comentário preconceituoso. O jornalista ainda tentou argumentar que foi mal interpretado, mas não teve jeito, foi cancelado por uma legião de justiceiros online de plantão. Já nas empresas, “ESG” é a nova sigla da moda, que representa a preocupação ambiental, social e com a governança. Não que isso seja algo negativo, muito antes pelo contrário. O problema é que o politicamente correto tomou conta de vez, e os consumidores estão cada vez mais censuradores. Esse comportamento de manada é ruim, pois demonstra que as pessoas não estão sabendo lidar com as diferenças – o importante é “lacrar” e ganhar “likes”. O problema é que quem sai prejudicada é a liberdade de expressão de cada indivíduo.

Se você se sente censurado ao experimentar um boicote, talvez você precise amadurecer e aprender a lidar com a liberdade de expressão sem medo de expressar o que sente, independentemente se receberá palmas ou vaias. Por outro lado, se você promove boicotes sempre que tem sua visão de mundo contrariada, talvez você precise amadurecer e aprender a lidar com a liberdade de expressão sem sentir-se inseguro porque ouviu algo de que não gostou.

Em qualquer caso, vale a máxima: quem fala, grita, xinga e grunhe o que quer está sujeito a ouvir o que não quer. Que tal aprender a debater com argumentos em vez de chavões? A liberdade de expressão agradece.

 

Victoria Jardim, engenheira e associada do IEE.

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