Quem fala demais dá bom-dia a cavalo. O ministro Paulo Guedes desconhece o dito do povo sabido. Ele estava em Washington. Lá, desandou a falar. Gostou tanto de ouvir a própria voz que a língua perdeu o freio. Não deu outra. Disse que não estava nem aí pro câmbio.
As consequências, como frisa o conselheiro Acácio, vêm depois. E vieram. A moeda norte-americana disparou. Bateu recordes. O Banco Central interveio. Fez dois leilões. Pouco adiantaram. O estrago estava feito. Fica a lição: moeda se escreve com inicial mixuruca: real, dólar, peso, libra, dinar.
Socorro, Banco Central
Na subida do dólar, o Banco Central interveio. Com os cofres cheios de verdinhas, vendeu a moeda pra quem quis. Resultado: evitou que ela fugisse do controle. Com a medida, trouxe à cena o verbo intervir. E, com ele, a flexão que a moçada teima em complicar.
Intervir conjuga-se como vir: venho (intervenho), vem (intervém), vimos (intervimos), vêm (intervêm); vim (intervim), veio (interveio), viemos (interviemos), vieram (intervieram); vinha (intervinha); virei (intervirei); viria (interviria); vier (intervier), vier (intervier), viermos (interviermos), vierem (intervierem); viesse (interviesse). O gerúndio e o particípio têm a mesma forma – vindo (intervindo).
O porquê do nó nos miolos
Muitos confundem a paternidade de intervir. Pensam que ele é filho do verbo ver. Na bobeira, soltam o tal “interviu”. Não dá outra: perdem pontos, prestígio e promoções. Olho vivo, moçada. No caso, a cara de um é o focinho do outro. Pai: vir. Filhote: intervir. Assim mesmo — sem tirar nem pôr.
Olho na diferença
Real ora se escreve com inicial grandona. Ora com inicial pequenina. Como explicar a discriminação? É simples. A moeda é vira-lata. Substantivo comum, grafa-se com letra minúscula. O Plano Real tem pedigree. Nome próprio, ganha banda de música e tapete vermelho: O Real estabilizou a economia. Com o Plano Real, o Brasil ganhou nova moeda — o real.
Sabia?
A palavra leilão vem do povo que mais sabe negociar. É ele, o árabe. Os primeiros leilões de que se tem notícia foram de escravos. Na Antiguidade, os exércitos vencedores exibiam como troféus os povos vencidos. Homens e mulheres derrotados seriam utilizados como mão de obra gratuita.
Taça rubro-negra
Viva! O Flamengo foi ao Peru e trouxe a taça. É bicampeão da América. Pra ele, aplausos da torcida rubro-negra e dos brasileiros. De quebra, uma diquinha de português. Os prefixos multiplicativos — bi, tri, tetra, penta, hexa — têm manhas. Uma delas se refere à grafia. Eles seguem as três regras de ouro do emprego do hífen.
Uma
O h, majestoso, não se liga a nada nem a ninguém. Com ele, nada de conversa. É um lá e outro cá: bi-humano, tri-histórico, deca-herói.
Duas
Os iguais se rejeitam. Quando duas letras gêmeas univitelinas se encontram, produzem curto-circuito. Separam-se, por isso, com hífen: bi-ilíaco, tetra-atleta, tri-invasivo.
Três
Os diferentes se atraem. Os olhares de letras distintas se encontram. Ops! É amor à primeira vista. Ficam juntinhas como Romeu e Julieta: bissexual, pentacampeão, tetrassistema.
Leitor pergunta
Os tribunais estão na moda. Juízes são mais conhecidos que os artistas globais. O que fazem e dizem repercute. Tenho ouvido, nas ruas e nos meios de comunicação, que o juiz tal ou qual deu parecer. É impróprio, não? — Carlos Bachara, Porto Alegre.
Juízes e tribunais sentenciam, ordenam, mandam, determinam, condenam, absolvem. É errado dizer que o juiz ou o tribunal opinou ou deu parecer a favor ou contra alguém.