O evento meteorológico extremo que atingiu o Rio Grande do Sul entre o final de abril e o início de maio trouxe consequências para a economia do Estado. A queda de 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre de 2024, em relação ao trimestre anterior, evidenciou o impacto das inundações, principalmente na indústria.
A retração, entretanto, foi inferior à esperada, graças ao alto desempenho da agropecuária, puxado pela colheita de soja, cuja maior parcela havia sido colhida antes do desastre. Apesar dos impactos das enchentes sobre a produção, as quantidades de grãos colhidos em 2024 na agricultura deverão ser superiores às do ano passado.
Passado o auge da crise, a economia gaúcha mostra sinais de recuperação, impulsionada principalmente pelo aumento do consumo. A arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cresceu 16,2% nos meses de julho, agosto e setembro, em comparação com o mesmo período de 2023.
O comércio foi estimulado pelo aumento do consumo a partir das transferências de recursos públicos às famílias e pela necessidade de recomposição de bens de primeira necessidade perdidos ou danificados pelas enchentes, como móveis, eletrodomésticos e veículos automotores.
A análise está no Boletim de Conjuntura de outubro, produzido pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Com autoria dos pesquisadores Martinho Lazzari e Tomás Amaral Torezani, o documento foi divulgado nesta quinta-feira (31).
A atividade mais impactada pelos efeitos das enchentes, em maio, foi a indústria de transformação, que apresentou queda de 26,5% em relação a abril. Em junho, porém, os números de produção praticamente se igualaram à produção anterior às enchentes. Um dos fatores para a recuperação foi o aumento da UCI (Utilização da Capacidade Instalada).
O indicador, medido pela Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul), mostra que a indústria precisou usar a capacidade de produção de forma mais intensa, impulsionada pela injeção de recursos públicos destinados à reconstrução do Estado, além da demanda nacional.
O pesquisador Martinho Lazzari disse que a análise dos dados mensais permite a observação do processo de retomada da economia gaúcha, após o momento mais agudo dos impactos das enchentes sobre a produção.
“Embora ainda de forma heterogênea, as atividades produtivas têm apresentado uma evolução positiva nos últimos meses, principalmente o comércio, que se beneficiou do aumento do consumo ocasionado pelas transferências de recursos públicos às famílias atingidas”, explicou. Com a volta das operações no aeroporto Salgado Filho, o comércio, junto com o setor de serviços, deve receber novo impulso.
A projeção, entretanto, é que os estímulos diretos ao consumo percam força à medida que as políticas públicas alterem o foco para as obras de reconstrução de infraestrutura. Os investimentos terão impacto direto em atividades como a construção, e indiretos sobre indústria, comércio e serviços. A tendência, entretanto, é que o consumo permaneça aquecido em decorrência dos aumentos da renda do trabalho.
Brasil e mundo
As principais economias mundiais apresentaram resultados diversos no segundo trimestre de 2024. O PIB dos Estados Unidos cresceu 0,7%, após dois trimestres de desaceleração, refletindo a retomada no investimento em estoque privado e a aceleração nos gastos do consumidor.
A Área do Euro registrou 0,2% de crescimento do PIB, uma ligeira desaceleração em relação ao trimestre anterior. De forma individual, as economias da França e da Itália cresceram 0,2%, enquanto a da Alemanha encolheu 0,1%.
A economia chinesa, por sua vez, registrou o pior ritmo de crescimento em cinco trimestres, de 0,7%. Assim como o Rio Grande do Sul, a China enfrenta os efeitos adversos de enchentes ocorridas ao longo do trimestre. Também podem ser citados como obstáculos de crescimento o setor imobiliário e o fraco consumo das famílias.
Na América do Sul, a Argentina, importante parceira comercial do Estado, registrou o terceiro resultado negativo consecutivo, com queda de -1,7% no segundo trimestre do ano. Houve retrações em todos os componentes da demanda, com exceção das exportações.
As perspectivas para a economia global, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, são de crescimento estável para a maioria das economias, com atividade mais forte no setor de serviços do que na indústria.
Em relação ao Brasil, o país registrou a 12ª alta seguida do PIB no segundo trimestre de 2024, com elevação de 1,4%, em decorrência da expansão da indústria e dos serviços. O resultado foi o maior desde o quarto trimestre de 2020, marcado pela retomada econômica após os impactos da pandemia. As projeções de crescimento do PIB nacional para 2024 apontam crescimento entre 3% e 3,3%.