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Bolívia tem protestos e bloqueios nas ruas após a vitória de Evo Morales em primeiro turno

A oposição contesta a reeleição de Evo Morales. (Foto: Reprodução/Twitter/Fotos Públicas)

Um dia após Evo Morales ser reeleito em um primeiro turno questionado, o que levou diversos países e organizações a solicitarem a realização de um novo pleito para esclarecer dúvidas sobre a contagem de votos, protestos continuam nesta sexta-feira (25) na Bolívia com bloqueios de ruas e confrontos.

Uma greve parcial foi realizada na capital La Paz junto a um protesto pacífico contra a apuração eleitoral que, por margem estreita, deu ao atual presidente um novo mandato de cinco anos sem precisar de um segundo turno contra o opositor Carlos Mesa.

O último cálculo oficial, com 99,99% das mesas de votação contabilizadas, mostrou Evo com 47,07% e Mesa com 36,51%. Na Bolívia, um candidato vence no primeiro turno se obtiver pelo menos 40% dos votos e 10 pontos percentuais de diferença para o segundo colocado.

A controvérsia sobre os resultados se concentra na interrupção inesperada da contagem rápida de votos, chamada Trep.

Após a divulgação, na noite de domingo, dos primeiros resultados parciais que indicaram a realização de um segundo turno, uma nova contagem, feita voto a voto, foi anunciada mais de 20 horas depois.

Nela, Evo aparecia próximo da vitória, levantando suspeitas de fraude entre oposição e observadores internacionais. Mesa, que governou o país entre 2003 e 2005, denunciou o processo como uma “fraude”.

Nesta sexta, em todas as partes de La Paz havia pessoas carregando faixas dizendo “não à ditadura”, bandeiras com as cores da Bolívia e gritando “respeitem meu voto”. Em vários bairros, policiais patrulhavam principalmente praças e rotatórias para impedir o bloqueio de ruas.

Os poucos ônibus que operavam procuravam rotas alternativas para ir da periferia ao centro de La Paz, que estava calmo. Os bancos funcionavam normalmente, assim como escritórios e empresas públicas.

Embora na região central as lojas estivessem abertas, muitos estabelecimentos nas franjas da cidade fecharam as portas devido às barricadas montadas pelos manifestantes.

Nas cidades de Santa Cruz de la Sierra, Sucre, Cochabamba e Potosí também houve uma greve convocada pela oposição. Em Santa Cruz, principal baluarte da oposição, os supermercados abriram suas portas por algumas horas, o que permitiu a centenas de pessoas estocar alimentos.

Já em Cochabamba houve confrontos entre apoiadores do governo e manifestantes da oposição, sem deixar feridos, segundo a mídia local.

Evo retomou sua agenda pública nesta sexta-feira e foi inaugurar obras em aldeias rurais, onde agradeceu o apoio dos camponeses e disse que é perseguido por ter origem indígena.

“Respeitamos e saudamos o voto urbano e estrangeiro, mas o voto na área rural garantiu o processo de mudança e, portanto, o desenvolvimento do povo boliviano. Muito obrigado pelo apoio, agora temos que continuar trabalhando pelo bem da sociedade”, declarou o presidente, no poder desde 2006.

Com a vitória, ele parte para um quarto mandato consecutivo e ficará no cargo até 2025. Ao todo, serão 19 anos no poder.

Em Cochabamba, Evo voltou a dizer que, se for preciso —”Se eu estiver errado, se mostrarem que perdemos no primeiro turno”—, participará de uma nova votação, no qual projeta “uma surra” contra Mesa.

O presidente, que completa 60 anos neste sábado, ganhou dois bolos dos camponeses, que cantaram “parabéns” ao mandatário.

México e Cuba parabenizaram o presidente pela reeleição, mas União Europeia, Estados Unidos, Argentina, Brasil e Colômbia se mostraram contra a questionada contagem de votos e exigiram a realização de um segundo turno para dirimir as dúvidas sobre o processo eleitoral.

A missão de observação eleitoral da OEA (Organização dos Estados Americanos) também recomendou outro pleito entre Evo e Mesa como a “melhor opção” para resolver o imbróglio —o próprio governo boliviano chegou, em um primeiro momento, a pedir uma revisão da contagem pelo órgão.

A proposta foi corroborada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que disse apoiar “totalmente” a OEA na condução de uma auditoria dos resultados das eleições.

O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, por sua vez, pediu o reconhecimento da legitimidade da reeleição de seu aliado andino.

Em Genebra, o Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos expressou preocupação com “relatos de violência” e relata que “a polícia usa a força contra manifestantes” com gás lacrimogêneo, “o que pode violar princípios básicos no uso da força”.

De acordo com o jornal local El Deber, a Defensoria do Povo da Bolívia informou que, até esta sexta, houve o registro de 27 feridos e 57 detenções devido aos protestos.

Entre os feridos, 23 são civis, dois deles jornalistas, uma criança, dois adolescentes e uma mulher adulta. Os números também incluem quatro policiais —um em estado greve. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

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