Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 4 de março de 2024
Pouco mais de um ano após comprar a Americas Trading Group (ATG), uma plataforma de negociações de ativos financeiros, a Mubadala Capital, que pertence ao fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, pretende colocar de pé uma nova Bolsa de Valores no Brasil para concorrer com a B3, a antiga Bovespa, localizada em São Paulo.
Segundo fontes que participam do processo, a sede da nova Bolsa será no Rio, mas também haverá operações em São Paulo. Os planos da Mubadala, no entanto, vão além. A empresa quer fortalecer o desenvolvimento de produtos e ofertas de negociação eletrônica da ATG e ampliar a conexão com as principais Bolsas da América Latina e dos Estados Unidos.
A criação de uma nova Bolsa pode ser um marco para o setor financeiro no Rio, que teve a primeira Bolsa de Valores do Brasil. Esta, porém, quebrou após a crise especulativa gerada pelo empresário Naji Nahas em 1989 e nunca se recuperou totalmente. No início dos anos 2000, foi incorporada pela então Bovespa.
Segundo fontes que acompanham as negociações, a compra da ATG pela Mubadala Capital mira a criação de um concorrente para a B3, hoje a única Bolsa que reúne todas as negociações do mercado acionário do país.
A Mubadala também é uma das investidoras da Central de Recebíveis (Cerc), cujos planos envolvem ampliar a atuação como depositária e escrituradora, além de negociar ativos e valores mobiliários.
Operação em 2025
A ideia é que a nova Bolsa no Rio comece a operar no segundo semestre de 2025 de forma completa, com a negociação de ações, derivativos, câmbio e commodities. A nova Bolsa, ainda sem nome, será comandada por Claudio Pracownik, que já esteve no comando das corretoras Genial Investimentos e Ágora.
Trazer uma Bolsa de Valores de volta para o Rio é um plano antigo. Em 2012, a ATG e a Nyse, que controla a Bolsa de Nova York, tentaram criar uma Bolsa no Brasil, mas a iniciativa não foi adiante. Outras operadoras de índices acionários americanas também já tentaram investir aqui, mas as iniciativas não vingaram.
Potencial de crescimento
Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que a criação de uma nova Bolsa pode permitir a entrada de mais empresas no mercado de capitais:
“A economia do Brasil é grande, mas não o mercado de capitais. Ao entrar uma nova Bolsa no país e oferecer custos mais baixos, isso pode atrair até mais empresas. E as próprias Bolsas podem fazer um esforço para atrair mais empresas.”
Para Teixeira, a volta de um mercado acionário sediado no Rio é importante para o crescimento do Estado:
“Quando a Bolsa saiu do Rio, boa parte do mercado do Rio se mudou para São Paulo. E as decisões passaram a ser lá. Ter algo no Rio é bom para o ambiente de negócios e para a cidade. Só tem vantagem. A concorrência vai permitir que a eficiência seja cada vez maior.”
O ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) René Garcia ressalta que uma Bolsa no Rio será uma nova fonte de geração de empregos para a cidade. Mas ressalta:
“A competição é sadia, mas ainda falta definir qual será a atuação da Bolsa.”
Segundo o consultor de finanças Henrique Armada Velozo, o Brasil tem potencial para ter outras Bolsas de Valores, dado o tamanho do seu mercado.
“O Brasil tem potencial de crescimento, pois são poucas as pessoas que compram ações de empresas. Ter mais Bolsas vai permitir maior concorrência, menores taxas e melhor serviço.”