Ganha uma joia saudita quem souber explicar o que o bolsonarismo se propõe a fazer na economia. O escritor mexicano Octavio Paz, escrevendo sobre os cacoetes da esquerda dos anos 1970, dizia que “os pequenos grupos radicais se converteram numa orquestra crepuscular de sapos e grilos, tocando uma delirante musiquinha, à margem da realidade”. Tirando o fato tautológico da pregação em favor de “tirar o PT do poder”, a atual oposição não tem nada a dizer. O poder, para quê? O movimento político que chegou ao poder em 2019 hoje não passa de uma “orquestra tocando uma delirante musiquinha, à margem da realidade”.
Qualquer analista sabe que a situação fiscal do País inspira cuidados, e que, se o cenário para 2025/2026 desperta preocupação, uma hipotética reeleição potencializará a incerteza. Se continuar na trajetória atual em matéria fiscal, um governo Lula 4 vai ter “sabor” de Dilma 2.
O País precisa, portanto, de um contraponto ao que o governo está fazendo. Outro dia vi na rua uma pessoa que estampava orgulhosa numa camiseta a palavra de ordem
“Fora Lula”. O que quem se opõe a ele precisa esclarecer – aguardando os prazos eleitorais correspondentes e sem “atalhos” como o dos atos criminosos de janeiro de 2023 – é: o.k., e depois?
É preciso que fique claro: pauta de costumes não é programa de governo. Mesmo considerando os “50 tons de cinza” das ideias de Paulo Guedes em 2019, olhando para 2026 e já sem a perspectiva do PG, alguém sabe o que o bolsonarismo tem em mente para evitar uma elevação contínua da relação dívida/PIB e a ameaça climática ou para melhorar a educação, favorecer a integração do País à economia mundial, etc.? Privatização? Já aprendemos que com Bolsonaro é lorota. Home schooling? Fala sério!
O Brasil precisa de uma alternativa que não seja nem o bolsonarismo nem o intervencionismo atual – mesmo deixando claro que se trata de problemas de natureza muito diferentes. Com a morte da “terceira via”, seria importante para o País que a direita brasileira não seja pautada pelos demolidores e procure construir uma proposta que vá além do sentimento anti-PT. Para isso, ela precisa articular um conjunto de ideias que façam sentido e expor um horizonte alternativo para a população. Foi isso que fizeram, cada um a seu modo, FHC em 1993/1994, Lula em 2002 e, num contexto específico, Temer em 2016. E para isso, nem Jair Bolsonaro nem a sra. Bolsonaro têm algo a propor. E Marçal, menos ainda. (Fabio Giambiagi/AE)