Nos últimos dias, um grupo de deputados radicais de direita tem tido reuniões periódicas para formar uma espécie de “célula independente” e derrubar do comando da bancada o deputado Altineu Cortes (RJ), que é do chamado “PL raiz” e já inaugurou um diálogo com o governo Lula.
Essa ala de rebeldes é liderada por bolsonaristas como Bia Kicis (PL-DF) e Marcos Pollon (PL-MS), que se encontram numa casa do Lago Sul.
Todas as reuniões são registradas em ata e as discussões entre um encontro e outra ocorrem num grupo de WhatsApp do qual o resto da bancada do PL não participa.
Além de deliberar sobre os assuntos da semana, o grupo discute sempre como formar maioria na bancada e destituir a atual liderança na Câmara.
Após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sido declarado presidente eleito do Brasil, diversos apoiadores do atual chefe do executivo se posicionaram nas redes reconhecendo a derrota de Jair Bolsonaro (PL).
Na última, os deputados deliberaram que vão defender a indicação de seus membros para representar o PL nas comissões da Câmara. Eles querem que o PL indique Eduardo Pazuello (RJ) para a comissão de Defesa, Ricardo Salles (SP) para a comissão de meio ambiente, Bia Kicis para a de fiscalização e controle – e ainda nomear Carlos Jordy (RJ) como líder da oposição da Câmara.
Na semana passada, esse mesmo grupo tentou pressionar o líder do PL, Altineu Cortes, para atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que havia acabado de decretar a prisão de Daniel Silveira.
Antes, eles tentaram emplacar a candidatura do deputado-príncipe Luis Orleans e Bragança à presidência da Câmara para marcar posição contra Arthur Lira, que disputava a reeleição. Mas o presidente Valdemar da Costa Neto, disse que tinha um acordo prévio com Lira e que, por isso, os expulsaria se fossem adiante.
Para a ala de Altineu, que se coloca como de “oposição responsável” a Lula , o objetivo dos rebeldes é provocar no PL o mesmo racha ocorrido no primeiro ano de mandato de Bolsonaro e o PSL, que o abrigou na eleição de 2018.
Na ocasião, o próprio presidente da República provocou uma cisão entre seus deputados e a direção do PSL, numa tentativa de assumir o comando.
A briga também começou com disputas por posições na Câmara, com os bolsonaristas tentando destituir os escolhidos pelo então presidente do partido, Luciano Bivar, para colocar seus aliados como líderes de bancada e em comissões.
No final de 2019, Bolsonaro acabou deixando PSL para formar o Aliança do Brasil, prometendo levar 26 deputados com ele. Mas a iniciativa não deu certo e Bolsonaro se filiou ao PL em 2021, levando seu grupo.
As mais recentes movimentações do grupo tem provocado discussões pesadas nos bastidores, com rebeldes e moderados pressionando Valdemar da Costa Neto a decidir a favor de um lado ou de outro. Mas Valdemar, que tem defendido Bolsonaro publicamente, não pretende se posicionar, pelo menos por enquanto.
Ele ainda acredita que é possível produzir um acordo entre os dois extremos, e para isso marcou para a próxima semana uma reunião da bancada em Brasília.
Segundo seus aliados, ele vai usar o método “Costa Neto” de resolução de conflitos: “Ele vai jogar todo mundo numa sala, deixar o pessoal falar e depois decidir o que quiser”.