Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2023
Uma possível explicação para os valores é a vaquinha promovida por seus apoiadores para pagar multas processuais.
Foto: Isac Nóbrega/Arquivo PRJair Bolsonaro (PL) recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano. A informação foi registrada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que também apontou que esse valor foi movimentado através de 769 mil transações feitas para a conta do ex-presidente efetuadas em seis meses de janeiro a julho deste ano.
O valor corresponde quase à totalidade do valor que circulou nas contas de Bolsonaro em 2023: R$ 18.498.532. O levantamento produzido pelo Coaf, aponta que o ex-presidente aplicou R$ 17 milhões em investimentos em renda fixa nos primeiros seis meses do ano.
No mesmo período, o ex-presidente recebeu mais de 769 mil transações por meio do Pix, que totalizaram R$ 17.196.005,80. O documento mostra que foram realizadas aplicações em Certificados de Depósitos Bancários (CDB) e Recibos de Depósito Bancário (RDB) no valor total de R$ 17 milhões.
O CDB e o RDB são as principais modalidades de investimento em renda fixa no mercado e estão atreladas à variação da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
O Coaf diz que a situação é “incompatível com os rendimentos” de Bolsonaro. O relatório informa que o ex-presidente não possui bens cadastrados em seu banco e que possui participação de 24,90% no capital da empresa Bolsonaro Digital Ltda., que tem faturamento presumido de R$ 460 mil. Os valores dos investimentos também não são compatíveis com os rendimentos mensais de Bolsonaro.
Vaquinha
Uma possível explicação para os valores é a vaquinha promovida por seus apoiadores para pagar multas processuais. O relatório do Coaf registra ainda R$ 3,6 mil repassados a Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí. A Procuradoria da República no Distrito Federal apontou Wal do Açaí como suposta “funcionária fantasma” de Bolsonaro por mais de 15 anos.
Outra empresa que aparece citada no relatório é a Bolsonaro Digital, uma empresa registrada em nome da família Bolsonaro. Na Receita Federal, ela tem como sócios o ex-presidente e seus três filhos Carlos, Eduardo e Flávio. O ex-presidente declarou cotas da Bolsonaro Digital à Justiça Eleitoral.
O ex-presidente tem evitado falar publicamente sobre o valor arrecadado na campanha. No dia 26 de junho, ele disse apenas que já havia levantado o suficiente para pagar suas condenações processuais. “A massa contribuiu com valores entre R$ 2 e R$ 22. Foi voluntário”, disse Bolsonaro na época, prometendo abrir os valores “mais para frente”.
O relatório do Coaf mostrou que 18 pessoas – advogados, empresários, militares, agricultores, pecuaristas e estudantes – pagaram entre R$ 5 mil e R$ 20 mil ao ex-presidente. Além delas, há três empresas. Uma delas fez 62 transferências que totalizam R$ 9,6 mil.
O documento foi enviado à CPI do 8 de janeiro. Depois que deixou a presidência da República, Bolsonaro assumiu o cargo de presidente de honra do PL, pelo qual recebe um salário de R$ 39 mil.
Ele também recebe uma aposentadoria do Exército e outra da Câmara dos Deputados. Assim, entre aposentadorias e salários, Bolsonaro ganha mais de R$ 75 mil por mês.
Indignação
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) reagiram nas redes sociais à divulgação do relatório do Coaf. Os filhos do ex-chefe do Executivo classificaram a publicação dos dados do documento como “assassinato de reputação” e afirmaram que o País está no rumo para “virar uma Venezuela”.
“Um assassinato de reputação sem precedentes contra o melhor presidente que o Brasil já teve! Reviram tudo, não encontram nada e mais uma vez quebram a cara! Nunca houve qualquer vazamento, quebra de sigilo ou exposição, sem embasamento, de nenhum ex-presidente na história do País, mas contra Bolsonaro vale tudo!”, afirmou Flávio no Twitter.
Ao falar sobre o caso, o vereador Carlos retomou a narrativa de aliados do Bolsonaro que defendem a ideia de que o Brasil pode ter uma gestão política próxima a da Venezuela com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Na democracia comunista relativa vale tudo! Já vivemos na Venezuela!”, disse. “Engana-se quem pensa que o Brasil está caminhando a passos largos rumo à Venezuela, Cuba e Nicarágua.”