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Política Bolsonaro cobrava, da Polícia Federal, investigações sobre o Presidente da Câmara dos Deputados e os Governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo

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Para Doria, não é o momento de negociação, pois o projeto de lei já foi aprovado. (Foto: governo do Estado de São Paulo)

Ao deixar o Ministério da Justiça, Sergio Moro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal para ter em cargos estratégicos pessoas de sua confiança a quem ele pudesse solicitar informações de investigações. Preocupam o presidente dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Mas aliados dele e integrantes do judiciário afirmam ainda que Bolsonaro reclamava, com frequência, por acreditar que a PF ‘fazia corpo mole’ ao não investigar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os governadores João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ).

“A recusa em atuar no inquérito das Fake News que pode respingar no Eduardo (Bolsonaro) foi o estopim”, afirmou um integrante do Judiciário, que pediu anonimato. “Bolsonaro queria autonomia para ‘pilotar’ a PF como um todo, principalmente para investigar Maia, a quem ele vem pedindo mais empenho nas investigações”, completou.

Os inquéritos do STF apuram a disseminação de fake news e ataques a parlamentares e ministros da Corte pelas redes sociais, enquanto o outro está centrado na organização de atos antidemocráticos no último fim de semana. A primeira investigação, segundo integrantes da Polícia Federal, já atinge um dos filhos do presidente.

Um aliado de Bolsonaro no Palácio do Planalto falou que o presidente reclamava também da falta de investigações sobre a atuação de João Dória e Wilson Witzel. Com a saída de Sergio Moro, em um claro confronto com o presidente, por causa da autonomia da PF fica a preocupação sobre como a instituição vai poder continuar atuando com autonomia e liberdade.

Os superintendentes e diretores que participaram da reunião com Maurício Valeixo na quarta-feira ficaram perplexos ao ver o presidente Jair Bolsonaro afirmar no pronunciamento ontem que o diretor-geral teria dito que estava cansado e que queria deixar o cargo. Duas pessoas presentes à reunião com Valeixo na quarta-feira de manhã disseram que ele afirmou apenas que “não tinha apego a cargos” e que, se ele tivesse que sair por vontade do ministro Sergio Moro, ele sairia.

“É muito diferente de dizer que ele tava cansado e que ia sair, comunicando a exoneração. Ele não disse isso”, afirmou um delegado da PF presente à conversa com Valeixo.

Existe expectativa sobre um eventual boicote como ocorreu com Fernando Segóvia durante o governo de Michel Temer, que ficou pouco mais de três meses no cargo e não contava com cooperação da própria instituição. Para policiais federais, a instituição se fortaleceu muito nos últimos anos e irá enfrentar novamente uma eventual indicação política. Por isso, se o nome de Ramagem for confirmado ele chegará para comandar a instituição enfrentando forte resistência.

Delegados afirmam ainda que Bolsonaro demonstra desconhecimento do papel da PF. Eles explicam que inquéritos são sigilos durante o período em que determina o juiz e não podem ser de conhecimento de ninguém que não seja parte.

“Nossos relatórios não são como os do Exército ou da Inteligência do governo. Muitas vezes nem o superintendente tem acesso se não é para ter acesso. Pode ser só da competência do delegado que conduz a investigação. É diferente de relatório de inteligência que produz no órgão governamental, que, em tese, é de interesse do presidente. Enquanto o juiz determina sigilo num procedimento, ninguém que não seja parte pode ter conhecimento”, afirmou outro delegado da PF.

Doria e Bolsonaro protagonizam embates há alguns meses. O governador paulista tem intenção de disputar a eleição presidencial em 2022 e há alguns meses se coloca como uma alternativa no campo de centro-direita. Com a crise do coronavírus, os dois chegaram a trocar acusações em público quando Doria cobrou Bolsonaro pelos discursos conta o isolamento social.

Já com o governador do Rio, o presidente protagonizou um grande embate quando a polícia civil do Rio tomou dois depoimentos do porteiro do condomínio do presidente no Rio. Nas declarações, o porteiro disse que foi Bolsonaro quem autorizou a entrada de um dos assassinos da vereadora Marielle Franco no condomínio onde ele mora no dia do crime. Foi de lá que os acusados saíram para disparar contra o carro dela.

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