O ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestou pela primeira vez após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado Democrático de Direito além de organização criminosa. Nessa quinta-feira (21), a corporação concluiu o inquérito sobre as articulações antidemocráticas, enquadrando ainda outras 36 pessoas.
Em declaração para o portal Metrópoles, Bolsonaro criticou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por processos que tratam das investidas golpistas como os ataques do 8 de Janeiro às sedes dos Três Poderes. Após o posicionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR), para onde o inquérito da PF será remetido pelo próprio Moraes, caberá ao ministro decidir o futuro dos indiciados e eventualmente denunciados, se houver.
“O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, afirmou Bolsonaro.
O ex-presidente também pontuou que “é na PGR que começa a luta”:
“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar.”
Pouco depois de o Metrópoles publicar a declaração, Bolsonaro postou o mesmo teor em suas redes sociais:
“Os crimes atribuídos pela Polícia Federal a Bolsonaro no inquérito que aponta uma tentativa de golpe no país podem chegar a 30 anos de prisão como pena máxima. Para a polícia, o ex-presidente, ex-ministros e aliados atuaram para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a eleição de 2022.”
A defesa do ex-presidente tem dito que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.
Um dos elementos obtidos pela investigação foi a confirmação de um encontro entre Bolsonaro e o então comandantes das Forças Armadas em dezembro de 2022 no qual foram apresentadas ações que possibilitariam um golpe. O ex-comandante do Exército Freire Gomes disse em depoimento à PF que, no encontro, Bolsonaro detalhou a possibilidade de “utilização de institutos jurídicos” como Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa ou Estado de Sítio para impedir a posse de Lula.
Outro elemento citado na investigação é uma reunião com teor golpista em julho de 2022 no Palácio do Planalto com integrantes do primeiro escalão do governo. Na ocasião, Bolsonaro incitou uma ação antes das eleições, e foi seguido por alguns minutos na fala pró-golpe.
“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, disse o então presidente.