Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de fevereiro de 2019
A iniciativa do presidente Jair Bolsonaro em receber o líder opositor Juan Guaidó um tratamento parecido ao dado a chefes de Estado que realizam visitas oficiais ao País não agradou militares do Palácio do Planalto. Na avaliação de setores da cúpula fardada do governo, o encontro da tarde dessa quinta-feira deveria ter sido um discreto, conforme planejado inicialmente, concentrando as atividades públicas no Palácio do Itamaraty.
Para não criar uma saia-justa diplomática, a ideia era de que o autodeclarado presidente interino do país vizinho, em sua passagem pela sede administrativa da Presidência da República, entrasse e saísse pela entrada privativa, não fizesse pronunciamentos e nem concedesse entrevista à imprensa brasileira dentro do edifício.
A sua aparição pública ocorreria no ministério das Relações Exteriores, com o chanceler Ernesto Araújo e sem a presença de Bolsonaro. De última hora, porém, Bolsonaro mudou o plano da visita, concentrando as atividades de Guaidó no Planalto, onde ele discursou ao lado do colega brasileiro e falou com veículos de comunicação.
O militares do governo temem que essa recepção calorosa possa parecer uma afronta direta ao atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Isso prejudicaria, por exemplo, a atuação do Itamaraty nos esforços para esfriar a tensão entre os dois países.
O diagnóstico é de que, em tempos de conflito, o recomendável seria o presidente manter silêncio e não aparecer publicamente ao lado do venezuelano. Para um militar ouvido em “off”, Bolsonaro também poderia ter feito menos elogios a Guaidó: em seu discurso, o presidente brasileiro chamou o oposicionista venezuelano de “irmão”.
A fronteira entre Brasil e Venezuela está fechada desde 21 de fevereiro. O Brasil reconheceu Guaidó como presidente da Venezuela em 23 de janeiro, quando ele se autoproclamou mandatário interino do país vizinho. Apesar do gesto do líder opositor, Maduro continua controlando o território e o exército venezuelanos.
Na quarta-feira, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, disse que a audiência de Bolsonaro com Guaidó seria uma visita de caráter pessoal. A parte oficial da recepção a Guaidó, segundo Rêgo Barros, seria reservada ao ministério das Relações Exteriores. O que a princípio seria uma visita pessoal, contudo, ganhou ao longo do dia pompas de recepção de autoridades estrangeiras.
O venezuelano fez, ao lado do brasileiro, um pronunciamento no salão leste do Palácio do Planalto, cerimônia normalmente reservada para visitas oficiais de presidentes estrangeiros em pleno exercício do cargo. O ministério das Relações Exteriores colocou à disposição do autoproclamado presidente interno da Venezuela a estrutura que normalmente oferece aos mandatários estrangeiros que realizam visitas oficiais a Brasília.
Estrutura
Foram oferecidos a Guaidó dois veículos blindados da Polícia Federal, além de seguranças da corporação. Ele também contou com uma suíte em hotel de luxo na capital, onde se hospedou após chegar da Colômbia na madrugada de quinta-feira. Os deslocamentos de Guaidó por Brasília foram acompanhados por batedores oficiais.
Como a ideia era promover um encontro de caráter pessoal, a reunião de Bolsonaro com Guaidó estava fora da agenda oficial do presidente da República durante toda a manhã. Com a mudança no planejamento, porém, o evento foi incorporado ao cronograma no meio da tarde.