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Por Redação O Sul | 4 de fevereiro de 2019
O presidente Jair Bolsonaro se manifestou nas redes sociais em relação à polêmica que envolve o cancelamento da estreia do filme “Boy Erased” no Brasil. “Fui informado de que um ator americano está me acusando de censurar seu filme no Brasil. Mentira! Tenho mais o que fazer. Boa noite a todos!”, escreveu.
O longa iria estrear nos cinemas brasileiros neste verão. No entanto, o seu lançamento foi cancelado por decisão de sua distribuidora, a Universal, que informou que ele irá direto para o mercado de vídeo. Como a obra de ficção faz uma crítica à chamada “cura gay”, criou-se um alvoroço de que o filme havia sido censurado.
Procurada, a Universal afirmou que tomou a decisão de não exibi-lo no circuito nacional por questões comerciais. “Com um filme pequeno, muitas vezes se gasta mais para colocá-lo nos cinemas, por causa da campanha, do que o filme consegue arrecadar nas bilheterias”, informou, por meio da assessoria.
A distribuidora garante que desde que o trailer foi divulgado, no ano passado, já discutia internamente se valia a pena lançar o longa no Brasil, mas por uma questão de mercado, e não temática: “Com um filme pequeno, muitas vezes se gasta mais para colocá-lo nos cinemas, por causa da campanha, do que o filme consegue arrecadar nas bilheterias”, informou, por meio da assessoria.
Antes, porém, as redes sociais já haviam sido tomadas por indignação. O ator Kevin McHale, famoso pela série “Glee”, fez associações com o atual momento político do país. “Bolsonaro é uma ameaça à comunidade LGBTQ+ brasileira. Censurar um filme sobre os perigos da terapia de conversão é só o começo”, escreveu em seu perfil.
Autor do livro homônimo que inspira o filme, o americano Garrard Conley foi outro que se posicionou e depois voltou atrás, dizendo que “aparentemente houve grande dose de confusão”. “Só não deixemos que isso nos distraia da situação que pessoas LGBTQ enfrentam.”
O filme
“Boy Erased”, dirigido pelo australiano Joel Edgerton, é baseado na história real de Conley, que aos 19 anos foi enviado para um centro que oferece terapia de “conversão” de orientação sexual. No longa, o personagem é vivido por Lucas Hedges, e seus pais, por Russel Crowe e Nicole Kidman.
“Boy Erased”, dirigido por Joel Edgerton, é inspirado no livro de memórias escrito pelo americano Garrard Conley. Aos 19 anos, o escritor, que é filho de um pastor batista, foi mandado para um centro de inspiração religiosa que se propõe a “converter” homossexuais. Hoje, ele milita contra esses tipos de terapias.
Em entrevista à imprensa no final do mês passado, Conley contou detalhes de como foi obrigado a limar comportamentos efeminados e evitar contato físico com outros homens:
“Só recentemente fui me dar conta de que era um culto. Hoje parece óbvio, mas para quem foi criado naquele tipo de ambiente, a percepção é um choque”, disse ele, que nasceu no Sul dos Estados Unidos, na região chamada de Cinturão da Bíblia devido ao grande número de famílias protestantes fervorosas.
Indicado ao Globo de Ouro pelo papel, Lucas Hedges é quem interpreta o protagonista no filme de Edgerton. Russel Crowe e Nicole Kidman fazem os seus pais na trama.
Nos Estados Unidos, “Boy Erased” foi lançado em novembro e ocupou 672 salas – número modesto para os padrões do país e menos de um quarto do que “Bohemian Rhapsody”, por exemplo. Seu faturamento nas bilheterias também não foi muito grande: pouco menos de US$ 8 milhões, relativamente baixo.
A estratégia do estúdio era aproveitar o burburinho da temporada de premiações, já que o longa era muito cotado. No Globo de Ouro, o filme emplacou duas indicações: melhor ator de drama, para Hedges, e melhor canção. Não levou nenhum prêmio. Ficou fora também do Oscar.