O ex-presidente Jair Bolsonaro manteve o discurso de que será candidato à presidência da República nas eleições de 2026 em entrevista à rádio CBN, no Recife, nessa segunda-feira (24). Bolsonaro foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e está inelegível até 2030. Além disso, após denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado, corre o risco de ser condenado e preso.
O ex-presidente também voltou a afirmar, na entrevista, que não tem motivos para fugir e que uma eventual prisão sua seria arbitrária. “O tempo todo, ameaça de prisão. É um prosseguimento da narrativa de golpe. A prisão, ninguém gosta dela. Se ocorrer, será por arbitrariedade”, disse.
Na peça entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma que o ex-presidente era o líder de uma organização criminosa que atuou para mantê-lo no poder. Bolsonaro, o ex-ministro Walter Braga Netto, candidato a vice na disputa presidencial, e outros 32 foram denunciados.
Na entrevista, Bolsonaro disse que nunca houve tentativa de golpe e que um estado de sítio foi pensado como “remédio constitucional”, mas “não foi levado adiante”. O ex-presidente ainda chamou de “tortura” a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens.
A versão do ex-presidente é que Cid teria mudado de posicionamento após sofrer ameaças do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo.
A delação de Cid é uma das peças que fundamentam a denúncia da PGR. Moraes derrubou o sigilo da delação na semana passada, após a denúncia, e liberou os vídeos com os depoimentos do militar. Um dos vídeos é de uma audiência em novembro de 2024. Cid foi chamado a depor por “contradições” entre suas falas e as investigações da Polícia Federal (PF), que indicaram existir um plano para matar Alexandre de Moraes. Nessa audiência, o ministro cobra “verdade” e adverte Cid sobre prisão.
“É importante, e exatamente por isso, a fim de possibilitar uma reflexão maior do colaborador com seus advogados, para que esclareça omissões, contradições, na sua colaboração, sob pena não só de decretação da prisão como também da cessação e consequente rescisão da colaboração. E eventual rescisão englobará, inclusive, a continuidade das investigação e responsabilização do pai do investigado, de sua esposa e de sua filha maior”, disse Moraes.
A defesa de Bolsonaro tem criticado a atuação do ministro nessa audiência e entende que o magistrado extrapolou seu papel. No entendimento do advogado Celso Vilardi, que lidera a defesa do ex-presidente, a delação de Mauro Cid deveria ter sido anulada quando se verificou que o militar tratou do acordo com terceiros. O advogado de Bolsonaro afirmou, na semana passada, que solicitaria ao STF a anulação da delação.