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Bolsonaro diz que não mudará seu estilo de ataques a adversários

(Foto: Marcos Corrêa/PR)

De forma reservada, auxiliares do governo já não escondem mais a preocupação com a agenda paralela do presidente Jair Bolsonaro, que tem criado polêmicas que tiram o foco do que deveria ser o objetivo principal: a agenda econômica.

O alerta interno foi acentuado com a insistência do presidente Bolsonaro, durante dois dias, em falar das circunstâncias da morte do desaparecido político Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, e ainda ter chamado de “balela” o trabalho documental da Comissão da Verdade.

Alguns interlocutores do presidente reconhecem que ele tem forte influência da chamada “ala ideológica” e que, com o passar dos meses, Bolsonaro começa a ficar à vontade na cadeira presidencial para se expor cada vez mais. Mas observaram que isso pode causar estragos para o desempenho do próprio governo.

Nesta quarta-feira (31) o presidente disse que não mudará o seu estilo de ataque aos adversários. “Sou assim mesmo, não tem estratégia”, afirmou. Porém até mesmo os aliados mais próximos do presidente já reconhecem que a manutenção do ambiente polarizado da campanha do ano passado pode trazer reflexos negativos para o governo.

“Ele está dividindo cada vez mais o país, quando deveria buscar uma unidade maior em torno de agendas de consenso”, disse um parlamentar com trânsito livre no Palácio do Planalto.

Há o reconhecimento interno de que o estrago das declarações recentes de Bolsonaro só não foi maior porque o Congresso Nacional está em recesso. Mesmo assim, a ampla repercussão negativa ao colocar em dúvida as circunstâncias da morte de Fernando Santa Cruz foi recebida até por aliados como um sinal de que ele ultrapassou a fronteira do razoável.

Alguns integrantes do governo já reconhecem que o presidente precisa ficar menos exposto e evitar declarações desse tipo. Mas esses auxiliares também admitem que será muito difícil convencer Bolsonaro a mudar de atitude.

“Balela”

Bolsonaro questionou na terça-feira (30) a legitimidade da Comissão da Verdade, que apurou crimes cometidos na ditadura militar. Ele deu a declaração ao ser perguntado por jornalistas sobre a conclusão da comissão para a morte de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz.

De acordo com a Comissão da Verdade, Fernando foi preso e morto por agentes do Estado brasileiro na ditadura militar. Na terça-feira, na entrada do Palácio da Alvorada, jornalistas questionaram o presidente de que a versão dele contraria a oficial.

Bolsonaro respondeu: “Você acredita em Comissão da Verdade? Qual foi a composição da Comissão da Verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma [Rousseff, ex-presidente]”, disse o presidente.

Bolsonaro ainda chamou de “balela” documentos sobre mortes na ditadura. “Nós queremos desvendar crimes. A questão de 64, existem documentos de matou, não matou, isso aí é balela”, afirmou o presidente.

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