Sábado, 01 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de julho de 2024
Segundo a Polícia Federal, as ordens para a venda das joias partiram diretamente de Bolsonaro para seus auxiliares.
Foto: SecomO ex-presidente Jair Bolsonaro publicou no X, antigo Twitter, após o Supremo Tribunal Federal (STF) retirar o sigilo sobre o inquérito que apura possíveis desvios das joias sauditas. Bolsonaro destacou o erro da Polícia Federal (PF) no relatório (que corrigiu o valor supostamente desviado de R$ 25.298.083,73 para R$ 6.826.151,661).
“Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias “desviadas” estão na CEF [Caixa Econômica Federal], Acervo ou PF, inclusive as armas de fogo”, escreveu o ex-presidente.
Os conjuntos de joias milionárias deveriam ter ido para o patrimônio do Estado, mas não foi isso que aconteceu. Conforme a PF, foram parar no patrimônio pessoal do ex-presidente.
Nesse inquérito, Bolsonaro foi indiciado por três crimes: peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Cabe agora à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se há elementos suficientes para oferecer denúncia ao STF. No relatório ao Supremo, a PF escreve:
“Identificou-se, ainda, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, afirmou a PF.
Em seguida, a polícia diz como esse dinheiro pode ter sido usado por Bolsonaro e família nos EUA. Bolsonaro viajou para os Estados Unidos no fim de dezembro, antes de passar a faixa presidencial para o presidente Lula. Ficou lá por três meses, até março do ano passado.
“Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”, completou a PF.
“A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”, completou a PF.
Ainda segundo a Polícia Federal, as ordens para a venda das joias partiram diretamente de Bolsonaro para seus auxiliares. É o que a polícia conclui a partir de depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço direito de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, ex-auxiliar do presidente.
Mensagens apagadas
Bolsonaro apagou mensagens de uma conversa que teve com Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, em dezembro de 2022, segundo o inquérito da PF que apura o caso das joias sauditas. Conforme o documento, no dia 29 de dezembro de 2022, véspera da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, Cid questionou o seguinte para o então chefe do Executivo: “O senhor vai trazer árvore e o barco?”.
A mensagem faz referência às miniaturas de uma palmeira e de um barco veleiro que Bolsonaro recebeu de presente durante viagem ao Oriente Médio. Ainda de acordo com a PF, Bolsonaro envia duas mensagens em resposta à pergunta de Cid, mas as apaga em seguida. Na sequência, Cid responde: “Sim, senhor”.
Segundo o relatório da PF:
“No dia 29 de dezembro de 2022, às vésperas desta viagem da comitiva presidencial para os Estados Unidos da América, MAURO CID envia mensagens para o contato “Pr Bolsonaro 2023”, questionando assuntos sobre a viagem. MAURO CID pergunta: “O senhor vai trazer árvore e o barco?”: Diante da pergunta de MAURO CID “O senhor vai trazer árvore e o barco?”, JAIR BOLSONARO envia duas mensagens, mas essas foram apagadas. Na sequência, MAURO CID respondeu “Sim senhor”. Além dessa sequência cronológica, sabe-se que o material seguiu para os Estados Unidos da América, mais especificamente para a casa de LOURENA CID, pai de MAURO CID.
Sendo assim, apesar das mensagens suprimidas, diante da pergunta e resposta afirmativa de MAURO CID, fica evidente a essência das mensagens e a obediência de MAURO CID em levar o material para fora do país.”