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Bolsonaro em Davos

Só bolsonaristas em estado de exaltação acham que o presidente Jair Bolsonaro saiu bem na foto em Davos. (Foto: Christian Clavadetscher/Fórum Econômico Mundial)

Só bolsonaristas em estado de exaltação acham que o presidente Jair Bolsonaro saiu bem na foto em Davos. Meio escondido no almoço no bandejão, esteve longe da imagem que se faz de um chefe de Estado, otimista e autoconfiante. Pareceu algo assustado com o mundo que de repente se abriu diante dos seus olhos.

Mas presença, expressão e brilho ele nunca teve. É um homem de notórias limitações. Só não viu quem não quis ver, ao longo de sua trajetória política e de campanha.

Por ora, isso não tem maior relevância. Davos é uma reluzente passarela onde desfilam medalhões da política e do “business” mundial. É importante? Claro que sim. Ali se desenham cenários, se fazem reflexões qualificadas sobre os problemas que afetam a humanidade. Tudo, é certo, de uma visão de mundo a priori. Uma conferência daquele porte não se faz sem a confluência de interesses bem definidos.

Davos nada ter a ver com a paranoia do “marxismo cultural”, como insiste o “filósofo” Olavo de Carvalho. Segundo o guru do atual governo – triste é o governo que tem Olavo como guru -, Davos é uma conspiração de investidores globais, nações ricas, Comunidade Europeia e comunistas retardatários e enrustidos, unidos para derrotar a civilização ocidental. Trata-se de uma nova estratégia do comunismo para voltar com tudo e dominar o mundo.

Capitalistas podem ser tudo, menos trouxas. É preciso torturar os fatos para vê-los como babacas, assistindo felizes e participando alegremente de eventos de uma trama mundial que visa extorquir os seus bens e acabar com eles. Mas sabem como é: quanto mais louca a teoria mais pessoas acreditarão nela.

Davos é uma conferência de capitalistas de algum modo preocupados com a educação das massas, a inclusão social, o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente, os novos movimentos coletivos como os LGBT, isto é, demandas de um mundo em transformação. Mas Davos não deixa de ser, nem no detalhe, a expressão de um conceito capitalista de mundo.

Em certa medida, Davos é um evento de progressistas ricos. Prefiro Davos ao Fórum Social Mundial (ainda existe?) com sua pregação regressiva, de um esquerdismo ralo, com a sua palavra de ordem de que “outro mundo é possível”.

Em uma das edições do FSM em Porto Alegre, no Gigantinho, Hugo Chávez, em plena forma, discursou para uma massa ululante, batendo duro nos Estados Unidos, exorcizando os inimigos da causa, e exaltando o seu “bolivarianismo”. O mundo possível que ele nos legou foi o desse sociopata Nicolás Maduro, o da Venezuela no seu estado atual de miséria, de fuga das massas e do clima de pré-guerra civil.

De toda a maneira, ninguém vai a Davos e conquista o mundo. Davos foi para Bolsonaro um ritual de iniciação. Se ele tiver juízo não comparecerá tão mal preparado em eventos da espécie. Ele deu mole e teve um desempenho pífio. De nada adianta os seus seguidores das redes sociais botar a culpa na imprensa e fazer comparações com Dilma Rousseff. A prova de fogo ainda está por vir. Se ele reformar a previdência e o Estado brasileiro, se ele desfizer os tantos nós que nos aprisionam, ninguém lembrará de Davos.

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