Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de janeiro de 2020
O presidente Jair Bolsonaro disse ser “indiferente” à denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o jornalista Glenn Greenwald, responsável pela divulgação de mensagens de autoridades acessadas por hackers.
Questionado se a denúncia poderá comprometer a liberdade de imprensa, o presidente respondeu: “Indiferente. Não devia nem estar… Onde está esse cara? Tá no Brasil, ele?”, afirmou. Diante da insistência no assunto, o presidente perguntou: “Quem denunciou foi a Justiça, você não confia na Justiça?”.
“Foi o MP, presidente”, corrigiu um repórter. “É, MP, MP…”, concluiu Bolsonaro.
O jornalista americano e outras seis pessoas foram denunciados pela Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) no âmbito da Operação Spoofing, que investiga a invasão de celulares de autoridades por hackers. Entre as vítimas estão o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol.
Na avaliação dos investigadores, o diálogo demonstra que Greenwald sabia que os hackers ainda não haviam encerrado a atividade criminosa quando recebeu os arquivos, e que chegou a sugerir formas de livrar os invasores.
Ataques
A denúncia do MPF contra Glenn Greenwald, editor do site Intercepet Brasil, motivou ataques de um bom número de políticos de esquerda e elogios entre aqueles que se posicionam à direita. Em meio aos críticos, estão o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex-presidente Lula, e a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). Já o time de defensores conta com nomes como os deputados federais Eduardo Bolsonaro (sem partido) e Marco Feliciano (PSC), além do senador Alvaro Dias (Podemos).
Sem ser investigado, Greenwald poderá responder pelos crimes de associação criminosa, interceptação telefônica e invasão de dispositivo informático alheio, na investigação que apura a atuação de hackers nas invasões de aplicativos de mensagens de autoridades da República.
Dino classificou a acusação como um tipo de “terraplanismo jurídico”, que está na moda em “tempos de trevas”. “Muito difícil sustentar juridicamente uma ação penal contra direitos constitucionais atinente ao sigilo de fonte no jornalismo e contra uma liminar do Supremo”, escreveu Dino no Twitter. Já o ex-presidente Lula prestou solidariedade a Glenn, a quem definiu como “vítima de mais um evidente abuso de autoridade contra a liberdade de imprensa e a democracia”.
Entre os que celebraram a decisão do MPF, Eduardo Bolsonaro reagiu com ironia: disse que Glenn, que “queria conhecer o país a fundo”, poderá agora “conhecer até a cadeia”. Já Feliciano afirmou que não adiantaria que Glenn corresse até a embaixada americana, “pois o Tio Trump” o esperava lá, em referência ao presidente dos Estados Unidos.