Sábado, 04 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de março de 2022
Nas conversas que teve com o consultor Adriano Pires antes de confirmar a sua indicação para a presidência da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro pediu a ele para melhorar a comunicação da estatal junto à população e para ampliar a interlocução com o Congresso Nacional. Assessores presidenciais também esperam mudanças pontuais na política de preços da estatal que possam atenuar os efeitos dos combustíveis sobre a inflação.
Bolsonaro quer uma condução mais política da maior empresa do País, de acordo com interlocutores do governo.
O presidente demitiu, na segunda-feira (28), o general Joaquim Silva e Luna do cargo de chefe da estatal para colocar Pires no posto. O chefe do Executivo se queixa com frequência que a Petrobras, segundo ele, se comunica mal e pouco fala do seu papel.
Por isso, escolheu um nome com bom traquejo político especialmente junto ao centrão (o grupo de partidos que apoia o presidente). Pires tem bom trânsito com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), com o mercado e com a imprensa.
Assessores próximos de Bolsonaro também esperam que Pires faça ajustes pontuais na política de preços da Petrobras, sem descaracterizá-la. Essa política traz para o mercado interno as variações do dólar e do barril de petróleo. Um desejo de parte do governo é que a empresa seja mais “sensível”.
Sob a gestão de Joaquim Silva e Luna, a Petrobras chegou a passar quase 60 dias sem reajustar os preços, antes de um reajuste de 18% na gasolina e de 25% no diesel, no início de março. Isso só ocorreu diante do risco de desabastecimento a partir de abril. O alerta do desabastecimento foi feito ao Palácio do Planalto em uma reunião no início de março, antes da Petrobras reajustar os preços.
Com confiança no mercado e no Congresso, dizem aliados de Bolsonaro, Pires pode fazer eventuais alterações na Petrobras sem causar soluços e crises. Além disso, como especialista do setor, pode montar argumentos técnicos inclusive contra gestores de carreira da Petrobras, acredita o governo.
Bolsonaro e Pires se reuniram pelo menos três vezes nas últimas duas semanas. O último deles foi no domingo (27), quando Bolsonaro sacramentou a troca na estatal. Os encontros não foram registrados na agenda oficial do presidente.
Para Bolsonaro e auxiliares, a “má comunicação” da empresa respinga no governo, o que é especialmente danoso em um ano eleitoral.
Adriano Pires é um dos principais críticos das administrações petistas na Petrobras. Para Bolsonaro, é preciso que a empresa demonstre publicamente supostos problemas nessas gestões, especialmente com relação aos problemas nas refinarias que não foram concluídas. Nas palavras de Bolsonaro a um interlocutor, é preciso “abrir a caixa-preta” da Petrobras. E isso pode ser usado como munição contra o ex-presidente Lula, provável candidato do PT ao Planalto.
Nos últimos meses, Pires também se tornou figura frequente em reuniões para discutir crises no setor elétrico e de petróleo. É próximo ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque e também se aproximou do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Por conta das crises, passou a ter interlocução também com Bolsonaro. Nas reuniões nas últimas semanas, Pires disse o que o mercado inteiro sabe o que ele pensa.
Contou que não é a favor de mudança na política de preços da estatal, que acredita que o setor precisa ter mais concorrência, inclusive com a privatização da petrolífera.
Pires defendeu também que o governo federal precisa subsidiar o diesel e o gás de cozinha durante as crises. E se mostrou a favor de um fundo para reduzir os preços. Isso é música para os ouvidos de Bolsonaro, embora seja totalmente contra a visão do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A nomeação de Pires vai ocorrer junto com a posse de Rodolfo Landim na presidência do Conselho de Administração. Atual presidente do Flamengo, Landim chegou a ser convidado para a presidência da estatal, mas preferiu permanecer no clube carioca.