Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de março de 2021
O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, disse que o presidente Jair Bolsonaro pretende participar do encontro climático de 22 de abril com chefes de Estado e de governo organizado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em Washington. Araújo afirmou ainda que, na reunião, Bolsonaro deve cobrar financiamento por parte de países desenvolvidos de ações de proteção e recuperação ambiental no Brasil.
Autoridades do governo americano pressionam para que Bolsonaro participe da Cúpula da Terra e já o haviam convidado em reuniões reservadas.
Segundo Araújo, o Brasil já foi convidado durante contatos de alto nível político e diplomático, embora não tenha sido enviado ainda um convite formal. Araújo relatou que o enviado especial dos EUA para o Clima, John Kerry, expressou, durante reunião virtual, a expectativa de Biden de que Bolsonaro vá ao evento. “O presidente pretende fazer parte desse esforço”, disse Araújo.
O chanceler brasileiro disse que o Palácio do Planalto vai apresentar na reunião de abril sua contribuição determinada no Acordo de Paris, metas ambientais que o País se comprometeu a alcançar, e usará sua presença no fórum para cobrar financiamento por parte de países desenvolvidos de ações de proteção e recuperação ambiental no Brasil.
“Isso é aquilo que até hoje está faltando”, disse Araújo, sobre o Acordo de Paris. “O acordo é extremamente ambicioso, mas continua não havendo cumprimento de compromissos na contraparte financeira, isso certamente será uma de nossas prioridades.”
Durante a campanha eleitoral, Biden ameaçou impor sanções econômicas ao Brasil, caso Bolsonaro não agisse para conter desmatamento e incêndios na Amazônia. O então candidato democrata afirmou à época que reuniria outros países do mundo para pressionar o governo brasileiro e ofereceria em troca uma quantia de US$ 20 bilhões.
As declarações irritaram o presidente brasileiro, que declarou que o País não aceitaria “subornos”. “Assistimos há pouco aí um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil”, disse. “E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona.”
Durante a campanha eleitoral americana, Bolsonaro apostou suas fichas em Donald Trump, fazendo campanha publicamente pelo republicano, apesar dos alertas de que poderia ficar isolado caso Biden vencesse – o que aconteceu.
Em novembro, os democratas saíram das urnas mais enfraquecidos na Câmara. Antes, o partido tinha uma maioria folgada de 233 dos 435 deputados. Depois das eleições de novembro, a margem de manobra diminuiu para 221 ante 211 republicanos. Com isso, sem poder perder votos no plenário, havia o temor de que a ala mais radical do Partido Democrata pudesse influenciar a nova política externa americana.
Desde a eleição de Bolsonaro, em 2018, o presidente brasileiro vem sendo alvo de críticas de deputados democratas. Os questionamentos à política ambiental e de direitos humanos de Bolsonaro são feitos em cartas, resoluções e propostas de emenda que circulam no Congresso americano. A preocupação aumentou quando Biden indicou a deputada Deb Haaland, integrante da ala crítica ao governo brasileiro, para o cargo de secretária do Interior.
No entanto, assim que se consolidou na cadeira, o presidente americano foi aos poucos enviando sinais de que buscaria evitar atritos na relação com o Brasil. Em fevereiro, em entrevista ao Estadão, Kristina Rosales, uma das porta-vozes do Departamento de Estado americano, disse que Biden continua a ver o Brasil como um aliado, apesar de divergências com Bolsonaro. “Não é simplesmente porque os dois líderes têm forma diferente de pensar que as coisas estejam mudando para pior”, afirmou a diplomata.
Biden é considerado um conhecedor do Brasil e da América Latina. Como senador democrata, ele ficou conhecido como um político conciliador e dedicado ao relacionamento internacional – foi presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado por 12 anos.
Em 2013, o democrata atuou diretamente na relação com o Brasil. Em visita a Brasília, Biden ajudou a abrir caminho para uma visita de Estado que Dilma Rousseff faria aos EUA – a viagem acabou cancelada em razão da revelação de que comunicações da presidente e da Petrobrás haviam sido bisbilhotadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA), dos EUA.