Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de março de 2019
O presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter uma marchinha em resposta à música “Proibido o Carnaval”, composta pelos baianos Caetano Veloso e Daniela Mercury e lançada há cerca de um mês, em protesto contra o avanço da onda conservadora no País.
“Dois ‘famosos’ acusam o Governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de ‘artista’ não mais se locupletará da Lei Rouanet”, escreveu nessa terça-feira. Em seguida, a música-resposta:
“Essa marchinha vai para o nosso querido Caetano Veloso e querida Daniela Mercury. Chupa!”, diz o intérprete, não identificado, antes de fazer referência à música. O nome de quem produziu a marchinha também não foi divulgado.
A letra da canção dos baianos pede o “fim da censura” e brinca com declarações da ministra Damares Alves (da Mulher, Família e Direitos Humanos) sobre as cores que crianças devem usar conforme o gênero. “Vai de rosa ou vai de azul?”, diz um trecho, cujo refrão é “Tá proibido o Carnaval, nesse país tropical.”
Já a marchinha divulgada por Bolsonaro bate na tecla da suposta dependência de artistas brasileiros em relação às políticas de incentivo: “Ei, ei, ei, tem gente ficando doida sem a tal lei Rouanet. Nosso carnaval não está proibido, mas com dinheiro do povo não será mais permitido”. Mais adiante, diz que “acabou a moleza e a tal lei Rouanet. Quem quiser brincar, que brinque com seu dinheiro, nosso Brasil vem primeiro, é ordem do capitão”.
Polêmica
Desde a época da campanha, Bolsonaro promete mudanças na lei Rouanet, principal ferramenta de subsídio à cultura na esfera federal. A ideia seria reestruturar as regras atuais para aumentar o apoio a artistas desconhecidos e produções de pequeno porte e dificultar o acesso a recursos por grandes empresários e artistas famosos.
Daniela Mercury
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo na segunda-feira (04), Daniela Mercury defendeu um carnaval “sem policiamento ideológico”. “A gente precisa muito de um carnaval sem policiamento ideológico ou de comportamento. São tantas prisões em que tentam nos colocar na vida. Não há nada como a arte para tirar a importância das paredes. Quando chega o carnaval, a música une as pessoas que pensavam estar separadas”, disse.
A cantora divulgou ainda uma carta dirigida a Bolsonaro na qual se dispõe a conversar, “para explicar como funciona o passo a passo” da Lei Rouanet. “Se assim desejar, irei com minha esposa, que é também minha empresária, até Brasília para conversar com o senhor sobre o assunto”, disse a artista na carta.
Após o tweet de Bolsonaro, Daniela Mercury divulgou a carta, informando que nos últimos 20 anos usou 1 milhão de reais de verba pública – “pouco”, segundo ela – em trios elétricos gratuitos para o público, e que teriam rendido retorno econômico a Salvador com o turismo.
“Em 35 anos de carreira, fiz muitas apresentações de graça no Brasil, bancadas do meu bolso. Essa fake news sobre a lei rouanet criada na eleição não pode continuar sendo usada para desmerecer o trabalho sofrido e suado dos artistas brasileiros”, afirmou a cantora.